1º Domingo do Advento – Ano B27/11/2020 551665
“O vos digo, digo a todos: vigiai!” (Mc 13, 37)
Tema central da Liturgia da Palavra
Iniciamos o ano novo da fé, ou seja, o Tempo do Advento abre-nos a vivência do novo Ano Litúrgico, Ano B, no qual refletiremos o Evangelho segundo São Marcos. Tomemos a Introdução ao Lecionário, nos números 39-42, a fim de melhor nos aproximarmos deste novo período.
O Tempo do Advento possui dupla característica: sendo um tempo de preparação para as solenidades do Natal, em que se comemora a primeira vinda do Filho de Deus entre os homens, é também um tempo em que, por meio desta lembrança, voltam-se os corações para a expectativa da segunda vinda do Cristo no fim dos tempos. Por este duplo motivo, o Tempo do Advento se apresenta como um tempo de piedosa e alegre expectativa.
O Tempo do Advento começa com as Primeiras Vésperas do domingo que cai no dia 30 de novembro ou no domingo que lhe fica mais próximo, terminando antes das Primeiras Vésperas do Natal do Senhor.
Os domingos deste tempo são chamados 1º, 2º, 3º e 4º domingos do Advento.
Os dias de semana dos dias 17 a 24 de dezembro inclusive visam de modo mais direto a preparação do Natal do Senhor.
O número 93 da Introdução ao Lecionário nos dá a tônica das leituras dominicais do Advento.
As leituras do Evangelho têm uma característica própria: referem-se à vinda do Senhor no final dos tempos (primeiro domingo), a João Batista (segundo e terceiro domingos), aos acontecimentos que prepararam de perto o nascimento do Senhor (quarto domingo).
As leituras do Antigo Testamento são profecias sobre o Messias e o tempo messiânico, tiradas principalmente do livro de Isaías.
As leituras do Apóstolo contêm exortações e ensinamentos relativos às diversas características deste tempo.

1ª Leitura: Is 63, 16b-17.19b;64, 2b-7
A primeira leitura de hoje nos apresenta a importante profecia de Isaías, que forma corpo da terceira parte do livro. Recordemos esta parte:
Terceira parte: compreende os capítulos 56 a 66 e correspondem à profecia do Terceiro Isaías ou Trito-Isaías, no contexto dos anos 535 a.C. ao 515 a.C. – tempo da volta dos exilados babilônios para Jerusalém. O autor retoma algumas das temáticas do Segundo Isaías, mas, adaptando-as à nova situação do povo. Assim, busca reanimar o povo na reconstrução da Nação, contudo, não apenas no cuidado com as construções materiais, mas sobretudo, da sociedade com valores humanos, fraternos e justos conforme os ensinamentos dos antigos.
A perícope de hoje está na parte da profecia chamada “oráculos escatológicos” (cap. 63-66). Especificamente a leitura nos apresenta uma dolorosa prece do profeta a Deus. Diante da nova realidade da volta dos deportados, o profeta se dirige a Deus perguntando-lhe o motivo da situação deplorável do povo, algo, bem distante da Aliança e das promessas (cf. Is 63, 17-19a). Daí, o profeta invoca Deus como pai e libertador (cf. Is 63, 16b), que deveria descer das alturas e cumprir seu papel de senhorio paterno e libertador para seu povo (cf. Is 63, 19b). Todavia, o profeta se recorda de que Deus sempre veio ao encontro de seu povo (cf. Is 64, 2b-4a), mas, a situação de agora acontece porque o povo insiste em caminhos de pecado (cf. Is 64, 4b.6), não por abandono divino, mas, por escolha do mesmo povo que sofre. Daí, o profeta recorda a Deus como o ser humano é frágil e limitado (cf. Is 64, 5) e, reconhecendo que a ação de Deus pode mudar isto, pede ao pai-libertador que aja no sentido de uma nova criação (cf. Is 64, 7).
Salmo 79 (80) 2ac.3b.15-16.18-19 (R/. 4)
O salmo é uma Súplica Comunitária. Conforme Hermann Gunkel: “O contexto destes salmos são dias de jejum nacional e/ou festivais de lamento conclamados por várias calamidades nacionais, tais como guerra, exílio, pestilência, seca, fome e pragas”. De forma específica, o Sl 79 (80) retoma a linguagem profética do Povo de Israel como a vinha do Senhor e, diante das invasões de povos estrangeiros, a comunidade pede socorro a Deus, o vinhateiro.
2ª Leitura: 1Cor 1, 3-9
Tomemos a introdução da Bíblia da CNBB a fim de melhor nos inteirarmos sobre este livro.
A Primeira Carta aos Coríntios (1Cor) faz parte de uma correspondência intensa entre Paulo e a igreja de Corinto. Segundo At 18, 1-18, Paulo fundou durante a 2ª viagem missionária, em 50/51 dC, a comunidade de Corinto, mantendo com ela o contato por escrito, durante a 3ª viagem. Da parte de Paulo temos conhecimento, através das cartas conservadas (1 e 2Cor), de, no mínimo, cinco cartas:
- a carta “pré-canônica” mencionada em 1Cor 5, 9-13 (talvez o fragmento que atualmente se encontra em 2Cor 6, 14 – 7, 1);
- 1Cor, reação a notícias recebidas por meio de Cloé (1Cor 1, 11) juntamente com uma carta (7, 1), quando Paulo estava em Éfeso (entre 53/54 e 56/57);
- a “carta em lágrimas” mencionada em 2Cor 2, 3.4.9; 7, 8.12, escrita para resolver um desentendimento entre ele e a comunidade;
- 2Cor, para refutar as calúnias de que Paulo era vítima;
- a(s) carta(s) de solidariedade com a coleta para os pobres de Jerusalém, atualmente incluída(s) em 2Cor 8-9.
1Cor é uma carta circunstancial, um diálogo a distância, a ponto de reconhecermos nas respostas de Paulo as questões e opiniões dos destinatários. A finalidade é, em primeiro lugar, pôr fim aos partidarismos (sobretudo em torno dele e de Apolo), remediar as práticas inissíveis na jovem comunidade da cidade dissoluta e consolidar a base da vida cristã: a fé na ressurreição.
A carta é relativamente longa, possui dezesseis (16) capítulos, contendo três (03) partes muito evidentes: I) reação as notícias de Cloé: 1Cor 1, 10 – 6; II) resposta à carta recebida: 1Cor 7 – 14; e III) a ressurreição: 1Cor 15. Sendo que 1Cor 1, 1-9 forma a introdução e 1Cor 16 a conclusão.
A perícope de hoje é apresenta-nos o fim da saudação inicia, onde o Apostolo abençoa a igreja de Corinto, oferece-lhe a graça e paz (cf. v. 3); e também traz a ação de graças paulina pela comunidade (v. 4-9). O motivo da ação de graças de Paulo a Deus é porque a comunidade de Corinto foi por Ele agraciada em Jesus Cristo (cf. v. 4). Esta graça em Cristo, por sua vez, é que os membros da comunidade foram enriquecidos em toda palavra e conhecimento (cf. v. 5) à medida que ela aderiu mais profundamente ao Cristo, crescendo em seu testemunho (cf. v. 6). Daí, à comunidade não falta nenhum dom (cf. v. 7). Esta ação de graças do Apóstolo é também um convite à perseverança no caminho da fé, afinal, ao mesmo tempo que rende graças a Deus porque Ele confirmará a caminhada da comunidade e será Ele quem a conduzirá à perseverança final, suas palavras soam como um apelo para que cada cristão de Corinto seja dócil e permaneça no bom procedimento da fé a fim de perseverar na comunhão eclesial fiel ao Bom Jesus (cf. v. 8-9).

Evangelho: Mc 13, 33-37
O capítulo 13 do Evangelho de Marcos situa Jesus e seus discípulos em Jerusalém e está inserido na conclusão dos debates polêmicos com as autoridades do povo (cf. Mc 11, 20 – 13, 1-2). A perícope de hoje já coloca Jesus no Monte das Oliveiras junto com Pedro, Tiago, João e André (cf. Mc 13, 3), ou seja, apresenta-nos a pregação de Jesus sobre o Fim e, especificamente, chama seus discípulos à vigilância.
A mensagem escatológica da perícope de hoje pode parecer algo um tanto ameaçador por parte de Jesus, mas, é preciso notar que os apóstolos que estão com Ele no Monte das Oliveiras e escutam estas palavras são aqueles que por primeiro foram chamados pelo Mestre e perseveraram no seguimento. Estes apóstolos representam todos os cristãos, em todos os tempos da história que escutam o chamado e também seguem e perseveram nos ensinamentos do Reino de Deus. Justamente por este profundo e íntimo conhecimento, a fala de Jesus não é ameaçadora, mas, ao contrário, ressoa cheia de esperança aos seus ouvidos.
A chamada à vigilância (v. 33), portanto, não é uma ameaça, mas antes, um convite à atenção, pois, as promessas do Reino de Deus irão se cumprir, embora não caiba aos servos saberem a hora (cf. v. 34-35). Ademais, receber o cumprimento das promessas messiânicas implica prontidão e exercício prático da fé, por isso, os servos que esperam a volta do seu senhor não podem ser relaxados no cumprimento de seu dever, mas, devem fazê-lo com esmero e não sejam surpreendidos (cf. v. 36). Portanto, a postura do discípulo do Reino é a alegre espera na vigilância (cf. v. 37).
Pe. Bruno Alves Coelho, C.Ss.R.