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Economia de Francisco25/11/2020 284b6f

 

 

«Vê, Francisco, repara a minha casa, como vês está em ruínas.» Estas foram as palavras que mobilizaram o jovem Francisco e que se tornam em chamamento especial para cada um de nós. Quando se sentem convocados, envolvidos e protagonistas da "normalidade" a construir, sabeis dizer "sim", e isso dá esperança. Sei que aceitaram esta convocatória [para o encontro Economia de Francisco, em Assis] de forma imediata porque são capazes de ver, analisar e experimentar que desta maneira não podemos seguir em frente; mostrou-o, claramente, o nível de adesão, inscrição e participação neste pacto, que foi além das capacidades. Manifestastes uma sensibilidade e inquietação especial para identificar os aspetos cruciais que nos interpelam. Fizeste-o a partir de uma perspectiva particular: a economia, que é o vosso âmbito de estudo e trabalho. Sabeis que urge uma narração econômica diferente, é preciso assumir responsavelmente que o atual sistema mundial é insustentável de vários pontos de vista, e atinge principalmente a nossa irmã Terra, tão gravemente maltratada e espoliada, e aos mais pobres e excluídos. Estão juntos: tu espolias a Terra, e haverá muitos pobres e excluídos. Eles são os primeiros afetados... e, inclusive, os primeiros esquecidos.
 
Não podeis permanecer fora de onde se gera o presente e o futuro. Ou estais envolvidos, ou a História ar-vos-á por cima.
 
Atenção, porém, para não deixar-se convencer que este é apenas um lugar-comum recorrente. Vós sois muito mais que um "rumor" superficial e ageiro que se adormece e narcotiza com o tempo. Se não queremos que isto suceda, sois chamados a incidir concretamente nas vossas cidades e universidades, trabalhos e sindicatos, empreendimentos e movimentos, cargos públicos e privados com inteligência, empenho e convicção, para chegar ao núcleo e ao coração onde se gerem e decidem os relatos e paradigmas. Isto mobilizou-me para os convidar a realizar este pacto. A gravidade da situação atual, que a pandemia de Covid pôs ainda mais em evidência, exige uma tomada de consciência responsável por parte de todos os atores sociais, de todos nós, entre os quais vós tendes um papel primordial: as consequências das nossas e decisões afetar-vos-ão na primeira pessoa, por isso não podeis ficar fora da gestação não já do vosso futuro, mas do vosso presente. Não podeis permanecer fora de onde se gera o presente e o futuro. Ou estais envolvidos, ou a História ar-vos-á por cima.
 
Todo o esforço para istrar, cuidar e melhorar a nossa comum - se quer ser significativo - exige mudanças nos estilos de vida, nos modelos de produção e de consumo, nas estruturas consolidadas de poder que regem hoje a sociedade. Sem realizar isto, não fareis nada.
 
 
Uma nova cultura
 
Precisamos de uma mudança, queremos uma mudança, buscamos uma mudança. O problema surge quando nos damos conta de que para muitas das dificuldades que nos assaltam não contamos com respostas suficientes e inclusivas; mais, padecemos de uma fragmentação nos diagnósticos e análises que terminam por paralisar toda a possível solução. Falta-nos, basicamente, a cultura necessária que possibilite e estimule a concretização de visões distintas plasmadas num tipo de pensamento, de política, de programas educativos e, inclusive, de uma espiritualidade que não se deixe encerrar por uma única lógica dominante. Se é urgente encontrar respostas, é imperioso fomentar e apoiar lideranças capazes de geral cultura, iniciar processos - não se esqueçam desta palavra: iniciar processos -, marcar caminhos, ampliar horizontes, criar pertenças... Todo o esforço para istrar, cuidar e melhorar a nossa comum - se quer ser significativo - exige mudanças nos estilos de vida, nos modelos de produção e de consumo, nas estruturas consolidadas de poder que regem hoje a sociedade. Sem realizar isto, não fareis nada.
 
A crise social e econômica que muitos padecem na sua própria carne, e que está a hipotecar o presente e o futuro no abandono e exclusão de tantas crianças, adolescentes e famílias inteiras, não tolera que privilegiemos os interesses setoriais acima do bem comum.
 
Precisamos de lideranças comunitárias e institucionais que possam assumir os problemas sem ficar prisioneiros destes e das próprias insatisfações, e assim desafiar a submissão - tantas vezes inconsciente - a certas lógicas (ideológicas) que acabam por justificar e paralisar toda a ação ante as injustiças. Recordemos, por exemplo, como bem assinalou Bento XVI, que a fome «não depende tanto da escassez material, quanto da insuficiência de recursos sociais, o mais importante dos quais é de tipo institucional». Se forem capazes de resolver isto, terão o caminho aberto para o futuro. Repito o pensamento do papa Bento: a fome não depende tanto da escassez material, quanto da insuficiência de recursos sociais, o mais importante dos quais é de tipo institucional.
 
Que difícil é avançar para soluções reais quando se desprestigiou, caluniou e descontextualizou o interlocutor que não pensa como nós!
 
A crise social e econômica que muitos padecem na sua própria carne, e que está a hipotecar o presente e o futuro no abandono e exclusão de tantas crianças, adolescentes e famílias inteiras, não tolera que privilegiemos os interesses setoriais acima do bem comum. Devemos voltar, de certa maneira, à mística do bem comum. Neste sentido, permiti-me realçar um exercício que experimentastes como metodologia para uma saudável e revolucionária resolução de conflitos. Durantes estes meses [de preparação para o encontro Economia de Francisco] partilhastes diversas reflexões e marcos teóricos valiosos. Tiveram a capacidade de encontrar-se em doze eixos - as "aldeias", assim as denominaram: doze temáticas para debater, discutir e encontrar caminhos possíveis. Viveram a tão necessária cultura do encontro, que é o oposto à cultura do descarte, que está na moda. E esta cultura do encontro propicia que muitas vezes possam sentar-se à mesma mesa para dialogar, pensar, discutir e criar a partir de uma perspetiva poliédrica as diversas dimensões e respostas aos problemas globais que afetam os nossos povos e democracias. Que difícil é avançar para soluções reais quando se desprestigiou, caluniou e descontextualizou o interlocutor que não pensa como nós! Este desacreditar, caluniar ou descontextualizar o interlocutor que não pensa como nós é uma forma de defender-se cobardemente das decisões que se deveriam tomar para resolver tantos problemas. Nunca nos esqueçamos de que o todo é superior à parte, e também é mais do que a mera soma delas, e de que a mera soma dos interesses individuais não é capaz de gerar um mundo melhor para toda a humanidade.

Não basta apontar para a busca de paliativos no terceiro sector ou em modelos filantrópicos. Ainda que o seu trabalho seja fundamental, nem sempre são capazes de assumir estruturalmente os atuais desajustes que afetam os mais excluídos.
 
Este exercício de encontrar-se mais além de todas as legítimas diferenças é o o fundamental para qualquer transformação que ajude a gestação de uma nova mentalidade cultural e, portanto, econômica, política e social; porque não será possível comprometer-se com grandes coisas apenas a partir de uma perspectiva teórica ou individual sem uma mística que vos anime, sem motivações interiores que deem sentido, sem uma pertença e um enraizamento que dê alento à ação pessoal e comunitária.
 
Assim, o futuro será um tempo especial, no qual nos sentiremos chamados a reconhecer a urgência e a beleza do desafio que se apresenta. Um tempo que nos recorda que não estamos condenados a modelos econômicos que centrem o seu interesse imediato nos lucros como padrão de medida e na busca de políticas públicas afins que ignoram o custo humano, social e ambiental das mesmas. Como se contássemos com uma disponibilidade absoluta, infinita ou neutra dos recursos. Não, não estamos forçados a continuar a itir e a tolerar silenciosamente com as nossas práticas que uns se sentem mais humanos que outros, como se tivessem nascido com mais direitos ou privilégios para o usufruto garantido de determinados recursos e serviços fundamentais. Também não basta apontar para a busca de paliativos no terceiro sector ou em modelos filantrópicos. Ainda que o seu trabalho seja fundamental, nem sempre são capazes de assumir estruturalmente os atuais desajustes que afetam os mais excluídos e perpetuam, sem querer, as injustiças que pretendem reverter. Porque não se trata apenas ou exclusivamente de socorrer as necessidades mais básicas dos nossos irmãos. É necessário assumir estruturalmente que os pobres têm a dignidade suficiente para se sentarem nos nossos encontros, participar das nossas discussões e levar o pão às suas mesas. E isto é muito mais que assistencialismo. Estamos a falar de uma conversão e transformação das nossas prioridades e do lugar do outro nas nossas políticas e na ordem social.
 
Recordo a primeira vez que vi um bairro fechado. Não sabia que existiam. No interior havia muros, e dentro estavam as casas, as ruas, mas fechadas: quer dizer, um bairro que vivia na indiferença. Impressionou-me muito ver isto.
 
Em pleno século XXI já não se trata simplesmente do fenómeno da exploração e da opressão, mas de algo novo: com a exclusão fica afetada na mesma raiz a pertença à sociedade em que se vive, pois já não se nela abaixo, na periferia ou sem poder, mas de fora. Ficai atentos a isto: com a exclusão é atingida, na própria raiz, a pertença à sociedade em que se vive, a partir do momento em que já não se está nos subúrbios, na periferia, ou sem poder, mas fora dela. É a cultura do descarte, que não só descarta, como obriga a viver no próprio descarte, deixando as pessoas invisíveis atrás do muro da indiferença ou do conforto.
 
Recordo a primeira vez que vi um bairro fechado. Não sabia que existiam. Foi em 1970. Tive que ir visitar alguns noviciados da Companhia [de Jesus], e logo, ao ar pela cidade, disseram-me: «Não, por aí não se pode ir, porque é um bairro fechado». No interior havia muros, e dentro estavam as casas, as ruas, mas fechadas: quer dizer, um bairro que vivia na indiferença. Impressionou-me muito ver isto. Mas depois isto aumentou, aumentou... e estava em todo o lado. E eu pergunto-te: o teu coração é como um bairro fechado?
 
 
Recordai-vos do legado do Iluminismo, das elites iluminadas. Tudo pelo povo, nada com o povo. E isso não é bom. Não pensamos por eles, pensamos com eles. E a partir deles aprendamos a dar prioridade a modelos econômicos que nos beneficiarão a todos.

O pacto de Assis
 
Não podemos prosseguir adiando algumas questões. Esta enorme e improrrogável tarefa exige um compromisso generoso no âmbito cultural, na formação acadêmica e na investigação científica, sem nos perdermos em modas intelectuais ou poses ideológicas - que são ilhas -, que nos isolem da vida e do sofrimento concreto das pessoas. É tempo, queridos jovens economistas, empreendedores, trabalhadores e empresários, de arriscar-se a propiciar e estimular modelos de desenvolvimento, progresso e sustentabilidade nos quais as pessoas, especialmente os excluídos - nos quais incluo a irmã Terra -, deixem de ser, no melhor dos casos, uma presença meramente nominal, técnica ou funcional, para transformarem-se em protagonistas tanto as suas vidas como de todo o tecido social.
 
Não basta aumentar a riqueza comum para que seja repartida equitativamente - não, isto não é suficiente -, não basta promover a técnica para que a Terra seja mais habitável.

Isto não é algo nominal: existem os pobres, os excluídos... Não, não: que essa presença não seja nominal, nem técnica, nem funcional, não. Está na hora de se converterem em protagonistas da sua vida e de todo o tecido social. Não pensemos por eles, pensemos com eles. Recordai-vos do legado do Iluminismo, das elites iluminadas. Tudo pelo povo, nada com o povo. E isso não é bom. Não pensamos por eles, pensamos com eles. E a partir deles aprendamos a dar prioridade a modelos econômicos que nos beneficiarão a todos, porque o eixo estruturante e de decisão será determinado pelo desenvolvimento humano integral, tão bem desenvolvido pela doutrina social da Igreja. A política e a economia não devem submeter-se aos ditames e ao paradigma da eficiência da tecnocracia. Hoje, ao pensar no bem comum, precisamos imperiosamente que a política e a economia, em diálogo, se coloquem decididamente ao serviço da vida humana. Sem esta centralidade e direcionalidade, ficaremos presos dentro de uma circularidade alienante, que as únicas coisas que perpetuarão serão dinâmicas de degradação, exclusão, violência e polarização: a produção, ao fim e ao cabo, não tem outra razão de ser senão o serviço à pessoa. Se existe é para reduzir desigualdades, combater as discriminações, libertar da escravidão. Não basta aumentar a riqueza comum para que seja repartida equitativamente - não, isto não é suficiente -, não basta promover a técnica para que a Terra seja mais habitável. Isto também não basta.
 
Muitos de vós terão a possibilidade de atuar e incidir em decisões macroeconômicas onde se joga o destino de muitas nações. Estes cenários também precisam de pessoas preparadas, «mansas como pombas e astutas como serpentes».
 
A perspectiva do desenvolvimento humano integral é uma boa notícia a profetizar e efetivar - e estes não são sonhos: este é o caminho -, porque nos propõe reencontrarmo-nos como humanidade no melhor de nós mesmos: o sonho de Deus de aprender a cuidarmos do irmão, e do irmão mais vulnerável. A grandeza da humanidade é determinada essencialmente pela sua relação com o sofrimento e com aquele que sofre - a medida da humanidade. Isto é válido tanto para o indivíduo como para a sociedade; grandeza que deve incarnar-se também nas nossas decisões e modelos econômicos.
 
Os sistemas de crédito são, por si só, um caminho para a pobreza e a dependência.

Como faz bem deixar ressoar as palavras de S. Paulo VI, quando, ao procurar que a mensagem evangélica permeasse e guiasse todas as realidades humanas, escrevia: «O desenvolvimento não se reduz ao simples crescimento econômico. Para ser autêntico, deve ser integral, quer dizer, promover a todos os homens e a todo o homem - a todos os homens e a todo o homem. (....) Não aceitamos a separação da economia do humano, o desenvolvimento das civilizações em que está inscrito. O que conta para nós é o homem, cada homem, cada grupo de homens, até compreender a humanidade inteira».
 
ada a crise sanitária em que nos encontramos, a pior reação seria cair ainda mais numa febre consumista e em novas formas de autopreservação egoísta.
 
Neste sentido, muitos de vós terão a possibilidade de atuar e incidir em decisões macroeconômicas onde se joga o destino de muitas nações. Estes cenários também precisam de pessoas preparadas, «mansas como pombas e astutas como serpentes» (Mateus 10,16), capazes de velar pelo desenvolvimento sustentável dos países e a não submissão asfixiante destes a sistemas de crédito que, longe de promover o progresso, submetem as populações a mecanismos de maior pobreza, exclusão e dependência. Os sistemas de crédito são, por si só, um caminho para a pobreza e a dependência. Este legítimo clamor exige suscitar e acompanhar um modelo de solidariedade internacional que reconheça e respeite a interdependência entre as nações e favoreça os mecanismos de controlo capazes de evitar todo o tipo de submissão, assim como velar pela promoção especialmente dos países pobres e em vias de desenvolvimento; cada povo é chamado a tornar-se artífice do seu destino e do mundo inteiro.
 
Oxalá que no final já não estejam "os outros", mas que aprendamos a desenvolver um estilo de vida capaz de dizer "nós". Mas um "nós" grande, não um "nós" pequeno, e depois "os outros", não.
 
Queridos jovens: hoje estamos perante a grande oportunidade de manifestar a nossa essência fraterna, de ser outros bons samaritanos que carreguem sobre si a dor dos fracassos, em vez de acentuar ódios e ressentimentos. Um futuro imprevisível já está em gestação; cada um de vós, a partir do seu lugar de ação e decisão, pode contribuir muito; não escolham os atalhos que seduzem e vos impedem de se misturarem para ser fermento onde se encontram. Nada de atalhos; fermento, sujar as mãos. ada a crise sanitária em que nos encontramos, a pior reação seria cair ainda mais numa febre consumista e em novas formas de autopreservação egoísta. Não vos esqueçais que de uma crise não se sai igual: saímos melhor ou pior. Alimentemos o bom, aproveitemos a oportunidade e coloquemo-nos todos ao serviço do bem comum. Oxalá que no final já não estejam "os outros", mas que aprendamos a desenvolver um estilo de vida capaz de dizer "nós". Mas um "nós" grande, não um "nós" pequeno, e depois "os outros", não; assim não se vai.
 
Não temais envolver-se e tocar a alma das cidades com o olhar de Jesus; não temais habitar sem medo os conflitos e encruzilhadas da História para os ungir com o aroma das bem-aventuranças.

A História ensina-nos que não há sistemas nem crises que tenham podido anular por completo a capacidade, o engenho e a criatividade que Deus não cessa de suscitar nos corações. Com dedicação e fidelidade aos vossos povos, ao vosso presente e ao vosso futuro, podeis unir-vos a outros para tecer uma nova maneira de forjar a História. Não temais envolver-se e tocar a alma das cidades com o olhar de Jesus; não temais habitar sem medo os conflitos e encruzilhadas da História para os ungir com o aroma das bem-aventuranças. Não temais, porque ninguém se salva sozinho. Ninguém se salva sozinho. A vós, jovens provenientes de 115 países, convido-vos a reconhecer que precisamos uns dos outros para dar vida a esta cultura econômica capaz de fazer que germinem sonhos, suscitar profecias e visões, fazer florescer esperanças, estimular a confiança, fechar feridas, entretecer relações, ressuscitar uma aurora de esperança, aprender uns dos outros a criar um imaginário positivo que ilumine as mentes, aqueça os corações, dê força  às mãos, e inspire aos jovens - todos os jovens, sem exceção - a visão de um futuro repleto da alegria do Evangelho.
 
 
Papa Francisco
Texto da videomensagem por ocasião do
encontro internacional "A Economia de Francisco",
Assis, Itália, 19-21.11.2020
Fonte: 
Sala de Imprensa da Santa Sé 
Trad.: Rui Jorge Martins

 

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