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29º Domingo do Tempo Comum – Ano A16/10/2020
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“Devolvei, pois, a César o que é de César a Deus, o que é de Deus” (Mt 22, 21b)
Tema central da Liturgia da Palavra
O centro da liturgia de hoje é o chamado a vivermos nossa existência humana ligada ao mistério divino de nossa criação. Como seres encarnados vivemos no mundo real, com seus deveres próprios que precisamos dar conta, porém, como criaturas de Deus somos chamados a não perder de vista esta realidade transcendente: Deus é o Senhor da história! Assim, a liturgia nos convida a equilibrarmos bem nossa relação no mundo e nossa relação com Deus a fim de abraçarmos os valores de seu Reino e não nos perdermos naquilo que não é essencial.
1ª Leitura: Is 45, 1.4-6
O capítulo 45 da Profecia de Isaías integra a parte redacional do Segundo Isaías, isto é, forma a segunda parte do livro.
Segunda parte: compreende os capítulos 40 a 55 e correspondem à profecia do Segundo Isaías ou Dêutero-Isaías, no contexto dos anos 586 a.C. ao 538 a.C. – tempo em que o povo eleito ava a grande humilhação do Exílio da Babilônia. O autor provavelmente é um longínquo discípulo do Grande Isaías que, à luz de sua profecia, interpreta os acontecimentos do presente no intuito de fortalecer a esperança do povo em Deus, por isso, sua bela profecia é conhecida como o “Livro da Consolação de Israel”. De forma concreta, a redação teve início por volta das primeiras vitórias da Pérsia, liderada por Ciro, contra a Babilônia, em 550 a.C. e teve seu fim com a vitória persa definitiva sobre os babilônios em 539 a.C. que resultou, em 538 a.C. com o Edito de Ciro decretando o retorno dos judeus para sua terra natal, embora este Edito não seja mencionado no Livro.
Nossa perícope está circunscrita à temática profética do Deus libertador de Israel (cap. 40-48) e aqui, especificamente, apresenta Ciro como instrumento nas mãos de Deus que dará a libertação ao seu povo.
O profeta inicia seu oráculo anunciando que Ciro, imperador persa, é o ungido de Deus que quebrará o poderio babilônio e libertará o seu povo ali cativo (cf. v. 1). Dizer que Ciro, mesmo não conhecendo Deus, foi por Ele ungido, significa que Ciro recebeu a autoridade na missão a ele confiada, ou seja, o ungido é um instrumento no plano divino.
Todavia, todo o poderio e capacitação de Ciro não está em vista dele mesmo, mas, em vista do amor de Deus por seu povo (cf. v. 4). Assim, não é Ciro quem vence, ou os deuses persas quem triunfam, mas, ao eleger Ciro para esta missão, Deus está demonstrando sua onipotência e que Ele é o Senhor da história sem o qual nada existe (cf. v. 5-6).
Salmo 95 (96), 1-2a.3-5.7-10a.c (R./ 7ab)
O salmo de hoje é um Hino de Louvor. Conforme Hermann Gunkel: “Hinos eram cantados como parte da adoração em diversas ocasiões, inclusive festivais sagrados, assim como em outros momentos, talvez por um coral ou um cantor individual”. De forma específica o Salmo 95 (96) é um louvor ao Deus único, criador e soberano do mundo, a quem todos os povos são convidados a prestar homenagem e trazer sacrifícios. Mesmo a natureza toda aplaude a chegada do Deus justo e fiel.
2ª Leitura: 1Ts 1, 1-5b
Damos início hoje à leitura orante da Primeira Carta aos Tessalonicenses. Aproximemo-nos deste texto bíblico com a introdução da Bíblia da CNBB:
A Primeira Carta aos Tessalonicenses (1Ts) é o mais antigo escrito do Novo Testamento. Paulo escreveu esta carta à igreja de Tessalônica, que ele fundou, acompanhado por Timóteo, na segunda viagem missionária, por volta de 50 dC. Paulo teve de seguir para Atenas (At 17, 1-9) e, de lá, enviou Timóteo para ver como estava a jovem comunidade. Reencontrou Timóteo de volta em Corinto, e em reação às suas notícias escreveu esta carta com orientações para a comunidade de Tessalônica. É uma verdadeira carta pastoral: o pastor fala, a distância, com seu rebanho, para fortalecê-lo em sua caminhada.
A carta possui apenas cinco (05) capítulos. Seu conteúdo geral pode assim ser elencado: 1, 1 saudação; 1, 2 – 3, 13 grata recordação da fundação e da consolidação da comunidade; 4, 1-12 exortação à vida santa; 4, 13-18 a esperança dos cristãos; 5, 1-11 instruções a respeito da nova vinda de Cristo; 5, 12-22 instruções para a vida da comunidade; 5, 23-28 final e bênção.
Nossa perícope de hoje é composta pela saudação inicial de Paulo à comunidade e parte da recordação da fundação e consolidação da mesma, amparada pela fé que os tessalonicenses demonstraram.
O texto se dirige aos tessalonicenses com o espírito de ação de graças a Deus (cf. v. 2) porque os tessalonicenses assumiram com profundidade e responsabilidade os valores do Reino de Deus: com fé vivenciam na prática a vida o amor e se esforçam para manter constante a esperança no Senhor Jesus Cristo (cf. v. 3). Esta realidade da vivência comunitária da fé aponta para a eleição divina que os tessalonicenses receberam e abraçaram (cf. v. 4) pelo anúncio do Evangelho (cf. v. 5b).
Evangelho: Mt 22, 15-21
Estamos já avançados na narrativa evangélica de Mateus. O capítulo 22 está circunscrito, mais especificamente, na temática das controvérsias em Jerusalém (cap. 19 ao 23) e, num apanhado geral do Evangelho, no conflito entre Jesus e as autoridades do povo e no consequente caminho para a cruz (cap. 14 ao 28). Assim, o contexto está no ensinamento direto aos discípulos em contraposição às práticas ‘tradicionais’ e fechadas que fariseus e mestres da lei exerciam e difundiam. Neste ínterim, Jesus faz sua entrada em Jerusalém (21, 1-11) e nesta cidade entrará em franca oposição com as autoridades religiosas (21, 12-27).
A perícope de hoje apresenta Jesus se defrontando contra outra classe de autoridade judaica: os fariseus (Mateus apresenta três confrontos entre estes e Jesus neste contexto de seu Evangelho: Mt 22, 15-22.23-33.34-40), que saíram e fizeram um plano para colocar Jesus em dificuldade (cf. v. 15); seguramente estavam presentes, mas em silêncio, nos embates entre sumo sacerdotes e anciãos contra Jesus (cf. Mt 21, 23 – 22, 14).
A mando dos fariseus, seus discípulos e alguns herodianos (cf. v. 16a) se aproximarão de Jesus a fim de apanhá-lo em alguma palavra pública ível de condenação. Com este intuito, se aproximam de Jesus com espírito e palavras bajuladoras (cf. v. 16b) e colocam uma difícil questão para Jesus: o pagamento de impostos ao Império Romano (cf. v. 17). Este era um tema espinhoso, pois, não havia consenso entre as classes dirigentes: saduceus e herodianos eram a favor da total submissão a Roma, pois, como clientes do Império usufruíam de muitos benefícios e regalias; por outro lado, fariseus e outros grupos mais radicais viam nos abusos tarifários romanos uma humilhação para Israel, além das altas taxas gerarem pobreza e injustiça social. Portanto, a cilada estava armada!
Jesus, porém, conhecedor dos seus interlocutores, afinal, se suas palavras do v. 16b fossem sinceras, eles já teriam aderido ao projeto do Reino de Deus e estariam aliados a Jesus, logo quebra o espírito bajulador e os desmascara publicamente (cf. v. 18). Na sequência, em sua divina sabedoria, pede para que lhe apresentem uma moeda (cf. v. 19) e pergunta de quem é a inscrição contida nela (cf. v. 20); responderam “De César” (v. 21a). Partindo desta resposta, Jesus desarma a cilada inimiga com: “Devolvei, pois, a César o que é César e a Deus, o que é Deus” (v. 21b).
A profundidade da resposta de Jesus à questão que lhe foi apresentada transcende a própria questão: “devolver a César o que é de César” significa que o ser humano deve ser responsável pela construção e transformação do mundo, não se furtando aos deveres em sociedade. “e a Deus o que é de Deus” demonstra a quem o ser humano deve se voltar constantemente como Senhor. Afinal, se nas moedas há a imagem de César, o ser humano é a imagem de Deus (cf. Gn 1, 26-27).
Pe. Bruno Alves, C.Ss.R.
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