Reino de Deus: amor incondicional02/08/2020 1ej3c
O que significa o Reino de Deus? Ou, como o evangelista Mateus prefere chamá-lo, o “Reino dos Céus”?
Devemos ter clareza que não é um pedaço de terra, demarcado entre fronteiras; também não há futuro céu após o nosso mundo. O Reino de Deus é uma atitude perante a vida fomentada no coração das pessoas, que, segundo o exemplo de Jesus, colocam o amor no centro da sua existência.
O amor incondicional e gratuito de Jesus é imediatamente perceptível entre as pessoas que buscam viver com a mentalidade, não de “exigir” e “conquistar”, mas de “agradecer” e “doar”. O Reino de Deus é experimentado pelos sujeitos autônomos que são fundamentalmente gratos pela vida que lhes é dada pelo Pai Eterno e sentem: “Deus, verdadeiramente, me ama em todo tempo e espaço!” E são generosamente comunicativos e transmitem seu amor aos outros: “Eu desejo agradar aos outros em todas as situações que surgirem”.
Assim, a atitude de Jesus em relação a vida cresce onde estamos, em tudo o que empreendemos e com os nossos limites e vulnerabilidades respondemos em primeiro lugar: “Sou grato por ser amado aqui pelo Pai e agora tenho a oportunidade de mais amar o próximo”.
Quando o ser humano começa a descobrir o amor do Reino de Deus surge uma alegria avassaladora, capaz de provocar uma mudança radical. Logo, o verdadeiro amor pode ser encontrado em uma pessoa, em uma tarefa, em um caminho de vida, em uma decisão. Quando descobrimos que somos amados e que podemos amar, sentimos uma alegria que nos impele radicalmente, e nos fortalece para esquecer o cansaço; o que nos afasta dos velhos hábitos e nos faz seguir caminhos completamente novos.
A alegria avassaladora é o sinal, a prova de que encontramos o tesouro da vida. Além disso, essa alegria traz uma mudança radical no nosso modo de vida. “O reino dos céus é semelhante a um tesouro escondido no campo, que um homem, ao descobri-lo, esconde; então, movido de gozo, vai, vende tudo quanto tem, e compra aquele campo” (Mt 13, 44). Uma imensa alegria nos leva a reinventar nossa vida, até a desistir de muito do que construímos até agora e a ressignificar nossa finitude, orientando-nos a amparar no tesouro descoberto.
Sinta que a atitude de desistir de determinadas posturas não é forçada, a pessoa não está com o coração pesado, mas age de forma espontânea e livre. Afinal, para os inebriados pela alegria do amor, os sacrifícios não são sentidos como dolorosos. O evangelho também nos ensina que é melhor não começar desistindo e abandonando tudo, na esperança de que isso nos ajude a encontrar o tesouro da vida. Esse mau ascetismo só pode nos tornar pessoas desoladas e ressentidas. Na verdade, é o contrário. Brotará a serenidade, uma memória agradecida, ao, livremente, revisitar a nossa história, a nossa biografia tendo como princípio o tesouro recém-descoberto.
Consideremos que os melhores momentos da nossa vida são aqueles em que nós, particularmente ou na companhia de uma ou mais pessoas queridas, experimentamos uma alegria tão profunda e convincente que estávamos dispostos a fazer qualquer coisa para ser amado e, por conseguinte, amar.
Descobrimos o tesouro da nossa vida, o Reino de Deus? A atitude radical e gratuita de amor após o exemplo de Jesus, em todas as dimensões da nossa vida? Aparentemente não, porque nossa alegria não é tão completa, pois não estamos inclinados a desistir de tudo o que estiver no caminho desse amor. Por enquanto, pensamos que devemos nos ater a alguns preconceitos, alguns pequenos prazeres, às vezes nossa preguiça, nosso orgulho ou egoísmo. O evangelho diz: “Continue procurando” e nos convida a permanecer abertos para a possível descoberta do Reino de Deus, para o possível encontro com o Amor. Portanto, regozijemo-nos uma vez que experimentamos a enorme alegria de ser incondicional, gratuito, totalmente amado e poder amar completamente.
Pe. Ricardo Geraldo de Carvalho, C.Ss.R.
Missionário Redentorista - Suriname