18º Domingo do Tempo Comum – Ano A31/07/2020 5m1dt
“Dai-lhes vós mesmos de comer!” (Mt 14, 16b)
Tema central da Liturgia da Palavra
O centro da liturgia de hoje é a forma como Deus sacia a fome de seu povo. A Primeira Leitura apresenta o chamado divino a seu povo para que o busque e firme nova aliança com ele. Se assim o fizer, Deus oferecerá o banquete libertador para seu povo, onde não mais haverá insatisfeitos. Este é o projeto divino para a humanidade que a Segunda Leitura diz que nada poderá nos separar dele. Afinal, aqueles que ouvirem o chamado de Deus e se colocarem em marcha para encontrá-lo e assumi-lo como forma de vida, percebe no Evangelho o cumprimento da profecia de Isaías: Jesus realiza o banquete do Messias, ou seja, oferece o meio pelo qual não mais homens e mulheres serão privados dos bens e detrimento de outros que por eles são escravizados; e garante a continuidade desta bênção à humanidade pelo ensinamento aos discípulos, seus continuadores na construção do Reino de Deus.
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1ª Leitura: Is 55, 1-3
Estamos na profecia do Segundo Isaías, especificamente na segunda e última parte temática de seu livro: restauração de Israel e salvação universal (cap. 49-55). A primeira leitura nos apresenta a visão futura da reconstrução de Israel, transformada em terra eleita para o seu povo eleito, por isso, a visão do banquete e a menção à aliança. Entretanto, para que isto se torne realidade, o povo precisa ouvir os apelos de seu Deus e se dispor a marchar ao seu encontro. O apelo divino é muito claro: “vinde” e não mais serão escravos ou gastarão com aquilo que Deus oferta gratuitamente, inclusive para quem não possui recursos (cf. v. 1). Ademais, aquilo que Deus oferece é a libertação e a vida com sentido, pois, seus dons não são ageiros e não levam os homens a trabalharem por aquilo que não sacia; justamente por isso, seus dons são inigualáveis e a visão é do banquete escatológico (cf. v. 2). Àqueles que procurarem Deus, terão vida nova pois novo compromisso será firmado, isto é, apesar da infidelidade do povo, Deus oferece nova aliança, ou seja, por seu amor oferece vida (cf. v. 3).
Salmo 144 (145), 8-9.15-18 (R./ cf. 16)
O salmo é um Hino de Louvor. Hinos eram cantados como parte da adoração em diversas ocasiões, inclusive festivais sagrados, assim como em outros momentos, talvez por um coral ou um cantor individual. De forma específica, o salmista bendiz o Senhor porque é bom, lento para a ira, rico de graça, fiel e providente, justo e amável; proclama que o Reino de Deus é glorioso e eterno.
2ª Leitura: Rm 8, 35.37-39
Damos continuidade à reflexão da Carta de São Paulo aos Romanos e tocando a mesma temática: a salvação universal por Cristo e as consequências disso. De forma específica a perícope de hoje mostra a radicalidade do amor a que somos chamados a viver em Cristo Jesus: nada nos poderá dele separar, pois, por sua doação a nós, já somos mais do que vencedores de todas as dificuldades do tempo presente!
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Evangelho: Mt 14, 13-21
Terminamos a leitura orante do capítulo 13, dedicado ao Sermão das Parábolas do Reino de Deus. Até então, a concentração de Jesus estava no anúncio do Reino para as multidões. Contudo, a partir do capítulo 14, Jesus irá se deter não mais aos de fora (multidões) mas aos de dentro, isto é, aos discípulos. A preocupação de Jesus estará voltada para a constituição da comunidade de seus continuadores no anúncio do Reino, que terá seu ápice no Sermão da Comunidade (capítulo 18). Todavia, ao mesmo tempo que forma mais intensamente seus discípulos, Jesus não negligencia as dificuldades das multidões que o seguem e o ouvem perifericamente (e muitos recusaram a proposta do Reino, cf. Mt 13, 53-58; 14, 1-12; 15, 1-9; 16, 1-4.5-12), inclusive, o cuidado para com os mais necessitados é fundamental na atividade de discípulo do Reino. É neste enquadramento que a primeira multiplicação dos pães, perícope de hoje, se encaixa na narrativa mateana.
O novo Moisés (v. 13-14): Outra vez Mateus insiste na imagem de Jesus como o novo Moisés. Esta associação teológica já havia ocorrido no Sermão da Montanha, capítulos 5-7, quando Jesus dá a Nova Lei ao povo; agora, Jesus é aquele que no deserto, lugar do encontro com Deus para Israel, guia o povo para a libertação. Jesus vai para o deserto sozinho, mas, a multidão o segue (assim como o povo libertado do Egito segui Moisés). Em sua relação com este povo simples e sofrido, Jesus sente compaixão e cuida dele (assim como Moisés cuidou do povo no deserto). Todavia, o cuidado de Jesus para com este povo vai além do cuidado material, pois, sendo o Messias, a libertação será de forma integral. Neste primeiro o, Jesus liberta os doentes das garras das limitações e inseguranças de futuro no campo físico-fisiológico. Mas, a grande libertação para este povo se dará no o seguinte.
O Banquete do Messias (v. 15-21): aqui a situação é duplamente exemplar. No tocante à formação da comunidade de discípulos, Jesus a forma no sentido de perceber a realidade que os cerca, mas, jamais deve se omitir: a comunidade do Reino de Deus deve intervir na realidade de sofrimento e transformá-la. Assim, à primeira reação dos discípulos de despedirem as multidões famintas a fim de elas mesmas cuidasse de si (significando o lavar as mãos diante da dificuldade alheia), Jesus lança o desafio que será o distintivo dos discípulos do Reino. “Dai-lhes vós mesmos de comer” é o mandato principal daqueles que aderem aos valores do Reino de Deus, ou seja, constatam as realidades sofridas dos pequenos e buscam solucioná-las unicamente por amor. E justamente neste ínterim Jesus demonstra a libertação tanto aos discípulos quanto às multidões: a comunhão do todo, cinco pães e dois peixes, na gratuidade e sob a bênção de Deus é capaz de satisfazer a todos, pois, o que causa escravidão ao ser humano é seu apego demasiado a bens temporais e seu acúmulo mesquinho, levando tantos outros semelhantes à indigência. Assim, na comunidade do Reino de Deus, importa a solidariedade total e patilha integral dos bens produzidos. Portanto, Jesus se mostra como o Messias, o libertador de seu povo da escravidão dos bens ageiros; em seu banquete messiânico convoca os presentes à partilha do todo que possuem e, dando graças e bênçãos, leva os presentes a reconhecer a vida e os bens presentes como dons de Deus.
Autor: Pe. Bruno Alves, C.Ss.R.