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6º Domingo do Tempo Comum – Ano B11/02/2021 67737

“Eu quero: fica curado!” (Mc 1, 41b)
 
Tema central da Liturgia da Palavra
 
O centro da liturgia de hoje é o cuidado de Deus com os mais fracos. O Evangelho mostra a radical postura de Cristo diante do fraco por excelência, o leproso, rechaçando prontamente a postura de exclusão teológico-religiosa desta categoria de doente do seio da comunidade atestada pelo Levítico (Primeira Leitura). Cristo anunciando o Reino de Deus reintegra o marginalizado à comunidade, isto é, pelo Evangelho, não há excluídos da família divina. O cuidado com o fraco é também apresentado do Salmo, onde o salmista rende graças a Deus pelo perdão integralmente recebido. Como consequência das ações libertadores e reintegradoras de Deus, o cristão, imitador do Cristo, deve tudo fazer para a glória de Deus e o cuidado com o irmão, vivendo sua liberdade evitando os escândalos (Segunda Leitura).
 
 
1ª Leitura: Lv 13, 1-2.44-46
 
Tomemos a introdução da Bíblia da CNBB sobre o Livro do Levítico.
 
Levítico (Lv) é o “terceiro livro de Moisés”, ou seja, do Pentateuco. Deve seu nome aos levitas – os “filhos de Levi” –, que dedicavam sua vida à organização do culto. Levítico é um manual do culto, constituindo a continuação direta do fim do livro anterior, Êxodo, que terminava com a organização da Tenda sagrada e do culto. As instruções para o culto são postas na boca de Moisés, mas a redação final do livro é bem mais recente, a saber, do século 5º aC, quando ao voltarem do exílio babilônico, os judeus organizaram o culto para o Templo reconstruído. Recolhe, todavia, as tradições sacerdotais antigas, sobretudo do santuário de Davi e do templo de Salomão.
 
O Levítico apresenta-se estruturado em vinte e sete (27) capítulos e, narrativamente, pode ser assim divido por temas: I) ritual dos sacrifícios (1 – 7); II) ritual dos ministros (8-9) e normas para evitar os sacrilégios (10); III) normas sobre pureza e impureza (11 – 16); IV) Lei da Santidade (17 – 26); e V) apêndice (27).
 
Nossa perícope de hoje encontra-se na terceira parte do livro e integra parcela do capítulo 13 que trabalha o tema da lepra humana (Lv 13, 1-46). Num primeiro momento é preciso notar a evidente preocupação sanitária desta difícil questão. Lepra, neste contexto bíblico, não se trata apenas daquilo que hoje chamamos por hanseníase, mas, incluía todo tipo de doenças da pele que vinham a deformar o aspecto humano (cf. v. 2a). Assim, a medida de separação dos doentes era vista como necessária por conta do risco de contaminação de todo o grupo.
 
Todavia, uma ação ascético-medicinal toma aqui uma dura realidade teológico-religiosa: o infectado pela lepra deve ser separado da comunidade por mandato divino (cf. v. 1) e ser apresentado aos sacerdotes (cf. v. 2b). A consequência disto foi a marginalização dos doentes não por estarem doentes, mas, por serem tidos na comunidade por amaldiçoados por conta de graves pecados cometidos; não à toa é o sacerdote quem deve dizer o estado do doente, ou seja, não se trata de saúde, mas, de pureza ou impureza cultual (cf. v. 44). Daí, a doença tornou-se impureza, isto é, causa de separação não apenas da comunidade, mas, inclusive de Deus. Esta realidade acabou por levar o doente à indignidade humana, por conta das deformações e separação comunitária, e também à indignidade social total, pois, sequer poderia se vestir normalmente e deveria se acusar publicamente como amaldiçoado (cf. v. 45-46).
 
 
Salmo 31 (32), 1-2.5.11 (R/. 7)
 
Este é um salmo de ação de graças individual. Conforme Hermann Gunkel: “Já que a palavra geralmente traduzida ‘ações de graça’ é a mesma palavra para ‘agradecimento’, fica claro que estes salmos tinham a intenção de serem usados num contexto cúltico. Pensa-se que o indivíduo, na presença da congregação em adoração testemunharia pessoalmente os atos salvadores de Deus, acompanhados de um ritual e uma refeição. Eventualmente, estes salmos foram liberados do contexto de sacrifício”.
 
Os vv. 1-2 apresentam a felicidade do salmista em perceber a misericórdia divina em seu favor, perdoando-lhe e não lhe atribuindo nenhuma pena. Justamente aqui é apresentada a ação de graças: o salmista, reconhecendo seu pecado, agradece o perdão total, que é manifestado textualmente no v. 5. Diante da realidade do perdão, o salmista convida os presentes ao louvor agradecido ao Senhor que tornar os homens justos (v. 11).
 
 
2ª Leitura: 1Cor 10, 31 – 11, 1
 
Terminamos hoje a leitura sistemática da Primeira Carta de São Paulo aos Coríntios. Assim, tomemos a introdução da Bíblia da CNBB a fim de melhor nos inteirarmos sobre este livro.
 
A Primeira Carta aos Coríntios (1Cor) faz parte de uma correspondência intensa entre Paulo e a igreja de Corinto. Segundo At 18, 1-18, Paulo fundou durante a 2ª viagem missionária, em 50/51 dC, a comunidade de Corinto, mantendo com ela o contato por escrito, durante a 3ª viagem. Da parte de Paulo temos conhecimento, através das cartas conservadas (1 e 2Cor), de, no mínimo, cinco cartas:
- a carta “pré-canônica” mencionada em 1Cor 5, 9-13 (talvez o fragmento que atualmente se encontra em 2Cor 6, 14 – 7, 1);
- 1Cor, reação a notícias recebidas por meio de Cloé (1Cor 1, 11) juntamente com uma carta (7, 1), quando Paulo estava em Éfeso (entre 53/54 e 56/57);
- a “carta em lágrimas” mencionada em 2Cor 2, 3.4.9; 7, 8.12, escrita para resolver um desentendimento entre ele e a comunidade;
- 2Cor, para refutar as calúnias de que Paulo era vítima;
- a(s) carta(s) de solidariedade com a coleta para os pobres de Jerusalém, atualmente incluída(s) em 2Cor 8-9.
1Cor é uma carta circunstancial, um diálogo a distância, a ponto de reconhecermos nas respostas de Paulo as questões e opiniões dos destinatários. A finalidade é, em primeiro lugar, pôr fim aos partidarismos (sobretudo em torno dele e de Apolo), remediar as práticas inissíveis na jovem comunidade da cidade dissoluta e consolidar a base da vida cristã: a fé na ressurreição.
  
A carta é relativamente longa, possui dezesseis (16) capítulos, contendo três (03) partes muito evidentes: I) reação as notícias de Cloé: 1Cor 1, 10 – 6; II) resposta à carta recebida: 1Cor 7 – 14; e III) a ressurreição: 1Cor 15. Sendo que 1Cor 1, 1-9 forma a introdução e 1Cor 16 a conclusão.
 
A perícope de hoje encontra-se na segunda parte da Carta. O tema ainda é o desenvolvimento de Paulo sobre a questão colocada pela comunidade sobre comer ou não as carnes sacrificadas aos ídolos (cf. cap. 8-10). Esta questão era importante para a comunidade de Corinto não porque os cristãos particiem destes ritos pagãos, mas, porque parte da carne oferecida nestes rituais era colocada à venda e, normalmente também comprada por cristãos como de qualquer outra pessoa. Disto surge a questão. A postura de Paulo é simples: não ofensa a Deus em consumir estes alimentos porque os ídolos não são nada. Diante desta liberdade cristã apresentada por Paulo, os cristãos devem vivê-la a partir de dois critérios imprescindíveis: fazer tudo para a glória de Deus (10, 31) e não escandalizar os outros (10, 32). Estes dois critérios devem moldar a liberdade cristã e a comunidade de Corinto tem o exemplo de Paulo a seguir (10, 33) que, por sua vez, buscou em tudo seguir o exemplo de Cristo (11, 1).
 
 
Evangelho: Mc 1, 40-45
 
O Evangelho de Marcos pode ser visto estruturado em dois grandes blocos: a apresentação de quem é Jesus e o anúncio do Reino de Deus (Mc 1, 14 – 8, 30) e a consequência lógica de reconhecer em Jesus o Messias de Deus (Mc 8, 29) e segui-lo com radicalidade (Mc 8, 31 – 16, 20). A perícope do Evangelho de hoje encontra-se no início do primeiro bloco narrativo e nos conta o começo das atividades messiânicas de Jesus junto ao povo: já na companhia de seus primeiros discípulos, Jesus inicia o anúncio do Reino de Deus com palavras, gestos e ações na periferia de Israel, isto é, na região conhecida pejorativamente como Galileia dos Gentios.
 
A narrativa evangélica de hoje está situada imediatamente após a decisão feita por Jesus de deixar Cafarnaum (cf. Mc 1, 35-39) com o intuito de pregar em outras partes da região. Pois bem, justamente num lugar não nomeado, um leproso aproxima-se de Jesus (cf. v. 40a). A situação do leproso na sociedade judaica já foi evidenciada na Primeira Leitura de hoje, mas, cabe aqui recordar que o leproso é o excluído por excelência: separado forçosamente do convívio social, era proibido que ele se aproximasse de qualquer aglomeração humana e também que as pessoas sãs deles se aproximassem; esta dura legislação brotava do entendimento de que a lepra era fruto de grande pecado por parte do doente e, por isso, este era um amaldiçoado, excluído pelos homens deveria ser porque, primeiramente, já havia sido excluído por Deus.
 
O leproso que se aproxima de Jesus, seguramente já havia ouvido sobre sua atuação em Cafarnaum e, por isso, viu nele alguém capaz de purificá-lo, ou seja, antes de encontrar pessoalmente com Jesus, já via nele o Messias. Por isso, infringindo a lei, mas com humildade e insistência (cf. v. 40b), reconhece na fé Jesus como o Messias, o único capaz de curá-lo: “Se queres, tens o poder de curar-me” (v. 40c).
 
À quebra da lei por parte do leproso – aproximar-se de pessoas sãs –, Jesus demonstra a face do Pai: olha com compaixão (ter compaixão é atitude exclusiva de Deus na literatura neo-testamentária) para o doente e, também quebra a lei tocando o leproso, pois, era proibido que pessoas sãs se aproximassem e tocassem leprosos. Comivo e tocando o doente, Jesus demonstra qual é a atitude divina ante os doentes e excluídos: “Eu quero: fica curado!” (v. 41). Ao que imediatamente o leproso ficou curado (cf. v. 42).
 
Efetuada a cura, Jesus lhe devolve ao convívio comum: manda-o embora (v. 43) e envia-lhe ao sacerdote para que este ateste a purificação e, ao mesmo tempo, a cura sirva de sinal para os líderes religiosos (cf. v. 44b), afinal, a purificação da lepra seria possível apenas pela ação divina, daí, a purificação deste leproso era testemunho de que o Messias já se encontrava entre eles.
 
Outro aspecto importante é que, ao mandar o curado ao sacerdote, Jesus recomenda-lhe firmemente que guarde segredo sobre o que ocorrera (cf. v. 44a). Aqui, mais uma vez, há o elemento marqueano do segredo messiânico: Jesus não quer ser seguido por razões equivocadas, ou seja, apenas pelo proveito que as pessoas pode fazer dele, por isso, a recomendação do silêncio, a fim de que as pessoas o sigam por adesão ao projeto do Reino de Deus. Todavia, o curado não conseguiu guardar segredo e pôs-se a divulgar muito o fato (v. 45a), demonstrando, pela desobediência, que aquele que faz o encontro libertador com Jesus, torna-se uma testemunha do Reino.
 

A consequência disto é que a fama de Jesus crescia ainda mais, de forma que ele não podia mais entrar publicamente numa cidade, permanecendo fora, em lugares desertos (cf. v. 45b). 

 

Pe. Bruno Alves Coelho, C.Ss.R.

 

 

 

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