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24º Domingo do Tempo Comum – Ano A11/09/2020 5n5p4o

 “Não devias tu também ter compaixão do teu companheiro, como eu tive compaixão de ti?” (Mt 18, 33)

 
Tema central da Liturgia da Palavra
 
O centro da liturgia de hoje é o perdão sem limites, atitude perene de Deus para com a humanidade (Salmo) e projeto para o relacionamento mútuo entre os humanos. Tanto a Primeira Leitura quanto o Evangelho deixam claro que o comportamento esperado por Deus daqueles que seguem seus mandamentos e caminham nos valores do Reino de Deus é o perdão mútuo, sincero e ir, assim como ele age conosco! Ampliando o tema do perdão, a Segunda Leitura demonstra que harmonia não significa eliminar as diferenças na comunidade, mas, perceber que estas devem ser integradas entre seus membros desde que em sintonia com o essencial: todos pertencemos ao mesmo Senhor.
 
 
1ª Leitura: Eclo 27, 33 – 28, 9
 
A primeira leitura de hoje pertence ao Livro do Eclesiástico, também chamado, por conta de seu autor, “Sabedoria de Jesus, filho de Sirac” ou simplesmente Livro do Sirácida. Jesus ben Sirac foi um sábio homem de Israel que, em torno do ano 185 a.C., reuniu neste livro as pérolas da sabedoria hebraica. Originalmente o livro foi escrito em hebraico, mas, mais ou menos cinquenta (50) anos depois foi traduzido para o grego, pelo neto do autor, daí o prólogo. Ao longo dos anos este livro alcançou grande sucesso entre os judeus, daí, recebeu várias recensões e comentários; também em âmbito cristão recebeu grande destaque, por isso, acabou por ganhar o nome de “Eclesiástico”, por conta de seu constante uso nas liturgias.
 
Partindo do conteúdo, o Livro do Eclesiastes pode ser subdivido em quatro partes:
 
Cap. 1 – 23: máximas sapienciais colocadas na boca do sábio.
Cap. 24, 1 – 42, 14: fala da Sabedoria personificada; outras máximas do sábio.
Cap. 42, 15 – 50, 31: elogio da criação e dos anteados.
Cap. 51: apêndice ao livro contendo oração e exortação.
 
Nossa perícope encontra-se no apanhado temático das máximas do sábio. É interessante notar as reflexões sapienciais sobre a relação entre o perdão entre as pessoas e o perdão divino que, dois séculos depois será retrabalhada por Jesus (Evangelho de hoje).
 
O perdão é abordado pelo sábio como o eixo que faz levar a vida pública das pessoas de forma correta e, ao mesmo tempo, a torna de acordo com as leis divinas. Assim, num primeiro momento, o autor desta reflexão diz que para se conseguir uma vida sábia, a pessoa deve dominar os impulsos da ira, furor e vingança (cf. 27, 33) e deve se dispor ao perdão daqueles que a ofenderam (cf. 28, 1a.2a). Aquele que se propõe a perdoar quem contra ele errou, pode confiar-se ao perdão divino (cf. 28, 2b.4-5), pois, se buscar o caminho da vingança, o próprio Senhor lhe pedirá severas contas de seus pecados (cf. 28, 1b).
 
Todavia, para além da relação espiritual, a sabedoria daquele que perdoa se encontra em ter consciência de sua existência finita (cf. 28, 6-7), ou seja, ter em mente a fugacidade da vida humana dá liberdade ao perdão, pois, aquele que foi lesado não precisa ar seus dias em busca de vingança, isto é, ficar remoendo todos os dias o mal que sofreu no ado. Assim, é melhor dar o perdão e viver na leveza daquele que está em relação com Deus na esperança da recompensa eterna e na certeza do perdão já recebido Dele no presente.
 
 
Salmo 102 (103), 1-4.9-12 (R./ 8)
 
O salmo é um Hino de Louvor. Hinos eram cantados como parte da adoração em diversas ocasiões, inclusive festivais sagrados, assim como em outros momentos, talvez por um coral ou um cantor individual. Especificamente, o salmista percebe e narra a misericórdia divina em sua vida pessoal e na história da salvação, pitando um belo retrato de nosso Deus como um pai carinhoso, clemente e paciente que nos livra dos males, nos enche de benefícios e constantemente nos perdoa em sua clemência.
 
 
2ª Leitura: Rm 14, 7-9
 
Damos continuidade à reflexão da Carta de São Paulo aos Romanos. Entretanto, a temática de hoje está inserida nas palavras do Apóstolo sobre a vida cristã e suas orientações práticas (cf. cap. 12, 1 – 15, 13). Hoje especificamente Paulo recorda à comunidade o essencial da vida cristã: tanto os mais fortes na fé quanto os mais fracos, todos, indistintamente, vivem para o Senhor e não para si mesmos (cf. v. 7-8a), assim, todos os membros são propriedades do Senhor (cf. v. 8b). É esta a realidade da comunidade cristã porque Cristo morreu e ressuscitou para todos (cf. v. 9). Daí, se todos pertencem ao mesmo Senhor, a comunidade não pode permitir a divisão por pequenos atritos superficiais e periféricos, pois, ao contrário, esta é chamada à coesão na dádiva de Cristo que a une e a orienta. Com esta argumentação o Apóstolo demonstra que há espaço para o diferente na comunidade.
 
 
Evangelho: Mt 18, 21-35
 
O capítulo 18 do Evangelho de São Mateus é conhecido como o Sermão da Comunidade. Aqui Jesus instrui de forma mais incisiva e detalhada como os discípulos do Reino devem viver e agir eclesialmente. No tocante à perícope de hoje, Jesus ensina o difícil, mas, necessário caminho do perdão mútuo e ir à comunidade.
 
Como narrou a primeira leitura, o tema do perdão era algo muito caro e bem desenvolvido junto ao povo de Israel. Porém, este perdão era reservado apenas aos membros deste povo e, além disso, tinha um limite, ou seja, as pessoas não deveriam perdoar perpetuamente. É justamente neste enquadramento temático, isto é, o quanto o perdão deveria ser dado, que a perícope de hoje se nos apresenta. Podemos ver na pergunta de Pedro (v. 21) certa “ironia santa” ao propor o número sete como a medida do perdão: afinal, sete é a plenitude! Assim, qual não deve ter sido a surpresa da comunidade ao ver a plenitude ser extrapolada indefinidamente pelo Mestre: setenta vezes sete (v. 22).
 
Com a finalidade de não deixar margens de dúvidas sobre o quão ilimitado deve ser o perdão cristão, Jesus propõe uma parábola (v. 23-35) sobre como o perdão deve ser vivido e suas consequências práticas dentro do Reino de Deus. A fim de bem nos aproximarmos de seu conteúdo, podemos subdividi-la em três cenas e sua imediata conclusão:
 
O perdão real ao grande devedor (v. 23-27): a cena inaugural da parábola é bastante chocante, pois, narra um rei que ajustava conta com seus servos. Diante de uma realidade dramática, um servo mostrou-se infiel e acumulou uma enorme dívida, isto é, desviou dos cofres de seu senhor uma fortuna impagável ao longo do tempo. A atitude do rei foi baseada na justiça do tempo: mandou que o servo e sua família fossem vendidos como escravos e que também seus bens fossem vendidos a fim de saldar a dívida. Porém, com os apelos sofridos e humilhados do servo, o rei sentiu compaixão dele e perdoou-lhe a dívida.
 
O que está em jogo nesta cena inicial é o contraste que gera o perdão: mesmo diante de uma fortuna impagável, ou seja, apesar de ter sido imensamente lesado pela corrupção infiel de seu servo, alguém juridicamente inferior a si, o rei mostrou-se ainda maior em sua compaixão e perdoou.
 
O grande devedor, agora perdoado pelo rei, que não perdoa a quem lhe deve pouco (v. 28-30): a segunda cena é paradigmática. Após experimentar a infinita misericórdia de seu senhor, o servo perdoado se encontra com outro servo que lhe devia uma quantia irrisória. A atitude do primeiro servo para com este seu companheiro é bem diferente da que ele acabara de experimentar frente ao rei: apesar das insistências de seu companheiro por compaixão e de sua dívida ser muito pequena, a atitude foi extremamente drástica, isto é, condenou-o à prisão até que sua dívida fosse saldada.
 
Aqui a relevância está também nas proporções: os dois são servos do rei, portanto, desfrutam de certa igualdade entre si, afinal, a narrativa de Jesus emprega o termo “companheiro”. Assim apesar de desfrutarem de estatuto social semelhante e de se tratar de uma dívida muito pequena, a atitude foi desproporcional e não levou em conta o exemplo de infinita misericórdia dado pelo rei.
 
A denúncia dos companheiros (v. 31-34): os companheiros de ambos, o que devia muito e o que devia pouco, ficaram muito sentidos com a drástica atitude do primeiro servo e denunciaram-no ao rei. O rei ficou profundamente irritado com este servo por não ter tido a dignidade de perdoar, assim como acabara de ser perdoado. Daí, a atitude do rei foi drástica: entregou-o ao carrasco até que toda a dívida fosse paga.
Assim, o que está em jogo nesta cena é a vida em comunidade: nossas atitudes são sempre grupais e não podemos nos furtar à presença do outro. Ademais, o exemplo do perdão dado pelo rei deveria ser seguido sobretudo por aquele que mais se beneficiou dele. Portanto, não espaço para hipocrisia na vida comunitária.
 
Conclusão da parábola (v. 35): é uma imagem bastante forte. Todavia, a ênfase não deve ser colocada num condicionamento do perdão divino ao nosso. Não, pois, Deus é perdão e misericórdia infinitas, independentemente de nossa prática. Entretanto, como o Evangelho é dirigido aos cristãos, seguidores dos valores do Reino de Deus, perceber Deus como misericórdia infinita e Dele recebê-la constantemente, implica que a prática comunitária de vida deve ser embasada no constante e ir perdão mútuo e sincero. E aqui também não podemos enxergar as dívidas da parábola apenas na dimensão material-financeira, mas, sobretudo, nos atritos reais que magoam e dividem a comunidade. Se os cristãos não exercitarem a prática do perdão, por outro lado, pode mesmo acontecer que estes, por não assumirem como valor esta faceta divina, se excluam do Reino por escolha própria, afinal, não há desculpas para não perdoar o irmão que erra comigo, sendo que já recebi de Deus o perdão total de minhas impagáveis dívidas e pecados!
 
Pe. Bruno Alves Coelho, C.Ss.R.
 
 

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