Entrevista: Padre Rogério Gomes28/10/2022 64224
Foto: Scala News
Novo Superior Geral da Congregação Redentorista, Pe. Rogério Gomes, C.Ss.R. fala sobre o dinamismo do serviço de animação congregacional e dá pistas importantes sobre como viver o carisma afonsiano no mundo atual.
Qual avaliação o Sr. faz do trabalho do Governo Geral neste último sexênio?
O sexênio começou com um trabalho intenso: colocar em movimento as 52 decisões do XXV Capítulo Geral que afetaram toda a vida da Congregação em vista do processo de reestruturação e de reconfiguração. O Governo Geral elaborou um Plano Estratégico para realizar as suas atividades. Em meio aos trabalhos, a pandemia de SARS-Covid 19 impossibilitou a grande maioria de atividades programadas. Graças às plataformas digitais, foi possível dar continuidade aos trabalhos planejados que não exigiam presença in loco. O próprio processo de reestruturação e de reconfiguração acabou sendo comprometido pela pandemia. Era possível realizar muito mais coisas, no entanto, deparamo-nos com esses limites, mas, no geral, vejo os resultados como positivos.
Como viver a identidade e o carisma Redentoristas neste mundo atual, tão ferido e em constantes mudanças?
Não se pode viver a identidade e o carisma Redentorista se não há o Redentor como centro. Ele é a razão da existência da Congregação, de nosso seguimento e do nosso anúncio aos mais pobres e abandonados. Isso tem implicações sérias em nossa vida, tanto de batizados, como cristãos, quanto membros professos da Congregação. São elas: crer no ser humano. A Constituição 5 nos lembra que “o mandato conferido à Congregação de evangelizar os pobres visa a libertação e a salvação da pessoa humana toda”. Portanto, antes de anunciar, cremos que o humano é viável, a começar por nós Redentoristas, que o Senhor chamou com nossas fragilidades e riquezas e nos fez experimentar a redenção. É crer no humano como ser capaz de surpreender e, apesar de suas ambivalências, de ser bom e redentor. O mundo hodierno tende a mostrar o ser humano cada vez mais malvado, doentio. Esquece de mostrar que se o mundo ainda está de pé é porque existe muita humanidade, bem sendo feito, redenção e salvação que acontecem na carne humana criada por Deus.
O outro aspecto a ser considerado é o mundo como lugar da redenção. Atualmente, estamos imergindo numa visão de mundo de luta do bem contra o mal. Cria-se uma mentalidade bélica, um mundo de tensão, de polarização, de puros contra impuros, dos bons contra os maus, dos poucos salvos e dos outros no inferno. Esta mentalidade é extremamente reducionista e maléfica. O próprio Deus se encarna neste mundo, a partir da carne humana, em uma história concreta com suas vicissitudes. O mundo é lugar de salvação, de redenção. Não salvamos fora dele! E, sim, dentro dele, na medida em que assumimos, em nossa própria carne, a identidade do Redentor. Se assim o é, o mundo não é lugar de perdição, mas lugar onde se realiza o Reino de Deus, na concretude de nossa carne e história, de modo que a história de cada ser humano é uma história de salvação em um mundo como lugar de redenção.
Por fim, para viver o carisma Redentorista nesse mundo atual é preciso cultivar a vida mística, a partir dos próprios pilares da Espiritualidade Redentorista: Encarnação, Eucaristia, Cruz e Maria. Eles têm todos os elementos necessários para nutrir a vida missionária do Redentorista e também dos leigos e leigas que caminham conosco.
Qual a função do Superior Geral e dos Conselheiros Gerais?
O Superior Geral e os Conselheiros Gerais formam o Governo Geral que “expressa a unidade de toda a Congregação. Preserva-a e vela para que exista um vínculo orgânico entre todas as partes da Congregação” (Estatuto 0120). O Superior Geral “tem poder sobre todas as Províncias, casas e religiosos do instituto e deve exercê-lo segundo o direito próprio” (CDC, can. 622). Ele é o responsável primeiro, juntamente com seu conselho, pelo serviço de animação da vida apostólica de toda a Congregação e responsável pelas relações com a Santa Sé, outras instituições religiosas e civis (Cf. Constituições, n. 115-116). Ele preside o Conselho Geral e executa as deliberações tanto do Conselho, quanto aqueles que lhes são de competência própria. A função de um Conselheiro Geral é ser uma assessoria qualificada ao Superior Geral. Além disso, “promover o bem da Congregação. Dependem de seu dinamismo e de sua competência a execução das decisões do Capítulo Geral, a eficácia do poder conferido ao Superior Geral e a colaboração de todas as (vice) Províncias na promoção missionária da obra da Congregação” (Constituição, n. 118). Cada Conselheiro Geral se ocupa de um secretariado ou comissão próprias do Governo Geral, que auxiliam no serviço de animação congregacional.
Que mudança fundamental vai proporcionar o processo de reestruturação?
A mudança de mentalidade de que somos um corpo missionário e de que a Congregação é maior do que a própria unidade, a qual estamos, e de que necessitamos mais disponibilidade para a missão. Do ponto de vista estrutural, a reestruturação provoca uma nova organização das unidades da Congregação (reconfiguração) para responder melhor aos desafios hodiernos. Provoca-nos a pensar novos modelos istrativos, novas formas de liderança, a colocarmos vinhos novos em odres novos (cf. Mc 2,22) para renovar todas as coisas (cf. Ap 21,5).
Qual a sua mensagem para os leigos e leigas que participam de nossa obra Redentorista?
É a de que continuem participando de nossa missão e possam trazer mais pessoas para beberem da Espiritualidade Redentorista e compartilhá-la com o mundo. A presença dos leigos e leigas na vida consagrada é de um valor inestimável. Há um enriquecimento mútuo. Os leigos e leigas também são convidados a serem testemunhas do Redentor, solidários para a missão em um mundo ferido, “pois participam no múnus sacerdotal, profético e real de Cristo, [...] têm parte ativa na vida e na ação da Igreja [...]. Fortalecidos pela participação ativa na vida litúrgica da comunidade, empenham-se nas obras apostólicas da mesma. Conduzem à Igreja os homens que porventura andem longe, cooperam intensamente na comunicação da Palavra de Deus, sobretudo pela atividade catequética, e tornam mais eficaz, com o contributo da sua competência, a cura de almas e até a istração dos bens da Igreja” (Apostolicam actuositatem, n. 10). A Congregação, cada vez mais, toma consciência da importância do papel dos leigos e leigas na sua vida e os tem incorporado em sua missão e também nas discussões sobre a nossa vida apostólica, como tem ocorrido nos últimos Capítulos Gerais.