Jubileu Sacerdotal de Diamante23/07/2021 152924
Celebrar 60 anos de sacerdócio é a confirmação de um caminho marcado pela entrega de amor total a Deus e ao próximo. Para o Pe. Dalton Barros de Almeida, C.Ss.R., que completa bodas sacerdotais de diamante no dia 16 de julho, esta celebração está enraizada em sua fé inabalável em Cristo, fortalecida pelos encontros fraternos que a vida lhe proporciona juntamente à Comunidade Apostólica Redentorista e aos diversos grupos de leigos e leigas. Em entrevista ao AKIKOLÁ, o confrade relembra seu chamado vocacional, revela aspectos da Vida Redentorista que o mantém perseverante na caminhada e declara ter esperança no futuro da Missão Redentorista.
Conte-nos um pouco sobre sua trajetória vocacional!
Muito cedo, aos 9 anos, prestes a serem 10, cheguei para o Juvenato São Clemente, em Congonhas (MG). Ainda permanece nítida na memória de meus olhos a saída da minha pequena Mercês (MG). Saída de trem. Era fim de linha que vinha de Santos Dumont e retornava.
Meus pais haviam sido surpreendidos pelo tratamento que o menino e o Missionário Redentorista Pe. José Brandão de Castro tiveram sobre o desejo-criança de também vir-a-ser um missionário. Por ocasião das Santas Missões, na missão para a criançada. ava de mil, diziam as professoras do Grupo Escolar Sena Figueiredo. Cativara-me a palavra dele. Estava enturmado com as três meninas que dona Lourdes, nossa catequista desde a primeira comunhão, cuidava. Seus nomes: Fé, Caridade e Esperança. Com a Esperança, eu formava dupla para as propostas do Padre Missionário.
Embora pai Orestes e mãe Neia estivessem surpresos com o tratamento e, também, pela rapidez da resposta vinda de Congonhas, o pedido-indicação do Pe. Brandão foi feito no final de julho. E no final de agosto, a resposta: “apresente-se no mês de setembro!”. Que gozo! Eu tinha pressa. Parece que Deus também.
Embora surpresos, não impediram. Comentavam sobre a pressa. Devia eu esperar mais um pouco. Mas chegada a hora, estávamos na pequena Estação da Central. Papai que me levaria, já na escada do vagão dos ageiros. Na plataforma, mamãe com a mão abençoada, sobre a minha cabeça, conversava comigo. Duas frases, a dela e a minha.
Mãe: - Filho, a chance de não ir é agora. Fica. Espera mais um pouco.
Eu: - Mãe, eu vou. Se não gostar, volto. Prometo.
Nós abraçávamos.
Mãe: - Seu anjo da guarda vá com você, filho.
Embarquei. FUI. Fiquei. Estava bom o sistema. Segui evoluindo. Aqui estou, vindo do longínquo setembro de 1947. Entrara na mesma época o congonhense Élio Athayde.
Foi Dom José Brandão de Castro quem nos ordenou: ao Pe. José Raimundo Vidigal e a mim.
Verifico: uma trajetória vocacional é a busca de nosso lugar na constelação dos caminhos humanos. Tecida é a trajetória por oscilações entre certezas pessoais e a aceitação por parte dos Superiores. Entre ousar e temer. Entre ganhos e perdas. É preciso saber renunciar. Fica sempre o Mistério: como (re)pensar as preocupações e o Desejo de Deus. Coisa certa para mim até hoje: não ficar nas superfícies e nem se pôr a ficar no chão. Voar longe. E alto. E ter um pouso fixo. Da iração pela Palavra que evangelizava, cheguei à Palavra que salva. E sigo a anunciá-la.
Uma curiosidade a mais: em casa se lia “O Lutador”, jornal Missionário do Pe. Júlio Maria de Lombaerde, fundador dos Sacramentinos de Nossa Senhora. Não só o jornal entrava em casa. Também o Pe. Júlio Maria, periodicamente visitando a família do mercesano Afonso de Miranda. A poucos metros de nossa casa. Apesar do cultivo que ambos faziam de minha possível vocação, não fui para Manhumirim. Congonhas foi minha estrada. No adro dos Profetas de Aleijadinho. Igreja do Bom Jesus, me edifiquei. Aí achei o meu tesouro.
Qual aspecto da Vida Redentorista mais o atrai?
Sem traição: estar entre evangelizadores – Homens da Palavra e a quase totalidade, gente de palavra. Confrades! Esta referência nunca me faltou. Sou grato. É a beleza desafiante de viver em Comunidade Apostólica, apreciando e aprendendo com a diversidade que cada confrade dá sua resposta vocacional e concretiza a Missão.
Como é chegar aos 60 anos de sacerdócio em um mundo ferido e de constantes mudanças?
O ser ordenado sacerdote foi como um desdobramento do ser-Redentorista. Alargou o campo de atuação, intensificando a mística do SER PARA DEUS, a serviço do Reino, na modalidade de Copiosa Redenção.
Padre-poder? Se for participação, beleza. Poder habitado por ambições, exorcizo. Missão e ministério é chegar ao coração da realidade. Por amor às pessoas.
Mundo ferido? “Ide curar”. Mudanças constantes? Viver em crise é para o acrisolamento pessoal e das estruturas inadequadas. Vida Redentorista como uma autarquia à parte? Oh, não. Igreja igual castelo? Oh, não. Me fiz filho do Concílio Vaticano II (1965). A caminho sempre. A missão do Evangelho é propiciar libertações.
Celebrar esse Jubileu Sacerdotal de Diamante é também celebrar uma vida marcada pela entrega total a Deus e ao próximo. O que o mantém firme nesse propósito?
Firmeza no crer – Meu coração Nele Confia (Sl 27). Firmeza nas teias do caminho que fortaleceram o ânimo e nos distanciam de eventuais desânimos ou descaminhos. Neste longo percurso, crer juntos a tantos grupos me revitalizava. Bendigo, leigos e leigas das várias gerações, jovens com os quais convivi. Bendigo, famílias que assessorando-as, confirmaram-me no vigor de prosseguir.
Repito: sou filho do Concílio Vaticano II e persisto. Reencontrei em vários presbíteros e alguns bispos o mesmo empenho. Essa vivência de amor-companheiros é sacramental de perseverança. Reencontro com o Papa Francisco o frescor de outrora: ousar! Assim, inquestionavelmente, sou quem sou, pelos encontros vividos. Ademais, pertencer a uma Comunidade Apostólica Redentorista tem sido cuidado com a graça vocacional. Jamais será infrutífera.
O senhor acompanhou boa parte do desenvolvimento dos Redentoristas como Província nos estados do RJ, MG e ES. Nesses 70 anos de ereção canônica de nossa unidade provincial, como o senhor avalia a caminhada da Província até o momento?
Como não me alegrar? Prosseguimos, lutando no SER Redentorista para este momento da história humana, história da Igreja e de Congregação. Comemorar 70 anos de nossa Unidade autônoma da maternagem original é, para mim, o mesmo que dizer: marchamos para um outro futuro que se desenha, em traços iniciais. Nova Unidade, reconfigurando três tradições Redentoristas, São Paulo, Bahia e Minas-Rio-Espírito Santo. Novo projeto para a autenticidade da Missão. Mais próximo, talvez, do SEGREDO que levou Afonso de Ligório ao fundar a Congregação Redentorista e a Clemente Maria a ampliá-la além da Itália. São meus estes pressentimentos. E parte da minha espera: Mística e Missão. A história desta miúda e valente Província não ficará encalhada ou desaparecerá. Se refaz. Renascerá. Afinal, já encontramos diferentes cenários na viagem do tempo até agora. E muito apreendemos. Que o novo cenário seja crescimento. Laus Deo!
Brenda Melo Jornalista