Recuperar o Projeto de Jesus28/03/2018 6k321g

Autor: Pe. Fagner Dalbem Mapa, C.Ss.R. 1f585o
Redentorista da Província do Rio e escritor do blog Sabor da fé
O que Jesus queria quando reuniu discípulos em torno de si foi um movimento profético ao qual Ele confiou duas tarefas: “ide e anunciai” e “ide e curai”. Esse espírito profético está perdido em muitas de nossas comunidades, portanto é hora de recuperar as comunidades de Jesus, libertando-nos do medo, rompendo silêncios e despertando a criatividade do povo de Deus. É preciso viver, no meio da sociedade atual, uma presença alternativa, não conformista com a injustiça deste mundo. O estilo de vida dos que formam a comunidade de Jesus tem de apontar para um mundo mais justo e fraterno, mais digno e solidário.
É preciso desenvolver a indignação profética das comunidades. Uma indignação perante os abusos e as injustiças que sofrem as vítimas. É importantíssimo também difundir a esperança em Deus, que não é conivente com a situação atual do mundo. Temos de acreditar no poder transformador dado pelo Senhor ao ser humano para uma vida mais humana. É possível mudar a trajetória da história, pois não estamos sozinhos, Deus está a implantar o seu Reino no meio de nós.
O grande desafio é ir construindo uma comunidade samaritana: que caminha com os olhos muito abertos para ver com atenção os feridos das valetas; que não entra em divagações perante as vítimas para continuar a caminhar, ocupada nos seus interesses e programas; que se comove e se aproxima dos que sofrem sem perguntar o motivo da situação em que se encontram. Gradualmente temos de ir aproximando a paróquia e a comunidade do sofrimento das pessoas. Necessitamos de comunidades que escutem o que ninguém ouve, que acolham os isolados, que acompanhem os que vivem perdidos, que defendam os mais fracos. O Papa Francisco disse: “Vejo com clareza que a Igreja precisa hoje de capacidade para curar feridas e dar calor aos corações, proximidade e vizinhança”.
O Evangelho nos pede para pormos mais, no centro de nossas comunidades e paróquias, os marginalizados – os últimos de nossa sociedade, promovendo gestos, iniciativas, posicionamentos que nos sensibilizem mais e nos levem a partilhar mais de perto os seus problemas e sofrimentos. Também a nós, como a Jesus, “o Espírito do Senhor nos envia para proclamar a libertação aos presos, e aos cegos a recuperação da vista, para libertar os oprimidos e para proclamar um ano da graça do Senhor”. Temos de dar os para colocar as paróquias e as comunidades na direção dos que estão à margem.
Não podemos nos fechar em nosso comodismo, empurrando os famintos e os desesperados para longe e vivermos tranquilos sem escutar o grito ou pranto de alguns. Lentamente temos de aprender a partir dos “últimos”, a optar pelos pobres e sofridos. São eles que podem nos ajudar a sermos mais humanos. Para isso precisamos dar-lhes um lugar maior em nossa comunidade, criar laços de amizade com pobres, imigrantes e entrar nos lugares dos mais esquecidos e desvalidos.
Texto baseado no livro: Recuperar o projeto de Jesus de José Antônio Pagola