Neste 2° Domingo do Advento, somos transportados ao deserto, lugar privilegiado do encontro com Deus, para escutarmos a voz de João Batista, o último dos profetas, que nos interpela a sairmos da acomodação, do medo e da indiferença que nos paralisam em nossos pecados e velhos hábitos, para que assim nos preparemos para a segunda vinda do Senhor e possamos acolher o Deus Menino, que deseja nascer mais uma vez em nossos corações. Advento é tempo propício para uma mudança interior (metanóia), uma reforma do coração, conforme as palavras do próprio João: “Preparai o caminho do Senhor, endireitai suas estradas!” (Mc 1,3). Há muito entulho, erva daninha, buracos, que vão se acumulando no decorrer do ano em nosso caminho espiritual, impedindo que Deus venha ao nosso encontro, devolvendo-nos a alegria de crer e viver. Portanto, é necessário consertar e endireitar os caminhos, aterrar os vales, nivelar os montes e as colinas, isto é, assumirmos uma postura de conversão, dispostos a recomeçar e abrir novos caminhos de vida.

 

Tal qual o povo de Deus exilado, mergulhados na insegurança e sem esperança, Deus deseja nos consolar, oferecendo-nos o perdão dos nossos pecados e o fim da servidão ao qual somos submetidos e nos submetemos. Ele deseja tirar-nos da condição de escravos e fazermos ar à condição de homens e mulheres novos e libertos (cf. Is 40,1-5. 9-11). Para isso, é necessário ar por João Batista, que é um modelo de alguém que vive coerentemente sua vida, em suas palavras e atitudes. João vive no deserto, isto é, não se deixa levar pela agitação do mundo, mas procura o silêncio e a intimidade com Deus; se veste de modo austero, pois o que estava em jogo para ele não é o exterior ou a aparência, mas a interioridade, a busca pelo essencial; se alimenta daquilo que se encontra no deserto, ou seja, recusa àquilo que a sociedade oferece como sendo um bem, seus valores, seu brilho. O Batista nos convida, portanto, a assumirmos um novo estilo de vida, a revermos nossos valores e atitudes, para que sejam mais condizentes com o projeto deste mundo novo inaugurado com o nascimento do Messias. O cristão não vive sem rumo no mundo, mas sabe que sua vida e o mundo se encaminham para “os novos céus e nova terra, onde habitará a justiça”. Enquanto isso, procura viver uma vida santa e piedosa, apressando assim, a vinda do Senhor (cf. 2Pd 3,8-14).