5º Domingo da Quaresma – Ano B19/03/2021 163428
“E eu, quando for elevado da terra, atrairei todos a mim” (Jo 12, 32)
Tema central da Liturgia da Palavra
O Quinto Domingo da Quaresma apresenta a desmesura do amor de Deus pela humanidade. O Evangelho aponta para o caminho de intimidade e fidelidade de Jesus ao projeto salvífico do Pai, chegando o momento em que livremente entregará sua vida para a salvação de todos. Esta salvação é conquistada pelas pessoas a partir da adesão a este mistério e estilo de vida (Evangelho e Segunda Leitura). O ser humano ao dizer sim ao projeto amoroso de Deus é chamado a uma vida nova de interioridade e justiça nas relações interpessoais, por isso, também recebe o perdão integral dos pecados (Primeira Leitura e Salmo) a fim de viver plenamente o amor, assim como Cristo viveu e ensinou.

1ª Leitura: Jr 31, 31-34
Jeremias viveu entre os anos 650-580 a.C. e desempenhou sua vocação profética no Reino de Judá a partir de 627/626 a.C. Sua pregação foi dividida em duas fases, localizadas entre dois reinados: sob Josias e depois sob Joaquim. Não há um consenso entre os exegetas sobre o real contexto de sua profecia, donde sobressaem duas hipóteses principais: a primeira é favorável ao enquadramento da profecia de Jeremias, sob o reinado de Josias, era um consolo para os israelitas (Reino de Israel) que se viam já há algum tempo humilhados pela dominação assíria; a outra vertente é que o profeta se dirigia, sob o reinado de Joaquim, aos judaítas recém derrotados e exilados pela Babilônia. Independentemente do contexto histórico da profecia, a pregação de Jeremias busca atingir o coração de um povo desanimando, humilhado e descrente.
A perícope da primeira leitura de hoje é localizada na parte profética sobre a restauração de Israel e a proposta da nova Aliança (cap. 31-33). De forma específica, nossa perícope é a parte final da profecia sobre a nova Aliança.
O texto se inicia com a promessa divina de que irá celebrar nova Aliança com seu povo Judá e Israel (cf. v. 31). Entretanto, esta nova Aliança será diferente da Aliança celebrada no Sinai (cf. v. 32). A Aliança do Sinai foi violada porque gravada em tábuas, ou seja, os termos da Aliança permaneceram exteriores ao coração humano. Justamente por isso, a nova Aliança será gravada nas entranhas e no coração do povo, ou seja, a partir de agora os termos da Aliança brotarão do interior de cada membro do povo e não de tábuas; ademais, a nova Aliança será gravada no coração de cada homem e mulher, ou seja, a nova Aliança estará presente nos pensamentos, nos locais profundos de reflexão e na fonte da ação do povo (cf. v. 33b); com isto, os termos da Aliança serão respeitados, ou seja, o Senhor será o seu Deus e aqueles que celebram a Aliança serão o seu povo (cf. 33c).
As consequências desta nova Aliança serão a vivência da pertença a Deus e a ética entre irmãos, por parte do povo (cf. v. 34a); e por parte de Deus, o perdão integral dos pecados (cf. v. 34b). Nisto fica demonstrado o amor de Deus por seu povo!
Salmo 50 (51), 3-4.12-15 (R/. 12a)
O salmo de hoje é uma confissão penitencial. Este tipo salmo é caracterizado por uma consciência dolorida de ter pecado contra o Senhor e merecendo assim punição. Nestas condições, o pecador pede perdão e apela para a graça de Deus na confiança de que Ele é o Deus da vida: não quer a morte do pecador, mas, em sua misericórdia, espera que este se converta e tenha vida!
2ª Leitura: Hb 5, 7-9
A Carta aos Hebreus não é propriamente uma carta, mas, uma homilia dirigida aos cristãos de origem judaica. Sua redação é provavelmente anterior ao ano 70, pois, não há menção à destruição do Templo de Jerusalém como confirmação escatológica da substituição do antigo para o novo sacrifício trazido por Cristo. De forma geral seu conteúdo é uma leitura alegórica do Antigo Testamento: aquilo que os destinatários deste sermão conhecem por experiência – o sacrifício no Templo – é um símbolo explicativo daquilo que ainda não compreendem plenamente: o sacrifício definitivo, único e insubstituível que Cristo ofereceu. Assim, o olhar do crente não deve parar na figura, mas, ir além do que ela representa, ou seja, não é o sacrifício em si o mais importante, mas, a vida e a obra do Cristo, lida alegoricamente como sendo o sacerdócio antigo, o sacrifício antigo, a missão de Moisés, etc.
A perícope de hoje integra o desenvolvimento teológico tematizado por “Jesus, mediador fidedigno e solidário” (3, 1 – 5, 10). De forma específica, temos aqui a argumentação final do tema “Jesus, o sumo sacerdote por excelência (4, 14 – 5, 10).
Jesus Cristo é o sumo sacerdote por excelência porque foi verdadeiramente homem e verdadeiramente Deus. Enquanto verdadeiramente homem, viveu o que é próprio do ser humano, inclusive dor e angústia diante da morte, por isso, elevou súplicas a Deus (cf. v. 7); mesmo na condição de Filho de Deus, aprendeu a ser obediente em tudo ao seu compromisso de levar aos seres humanos o projeto salvífico do Pai, o que lhe trouxe a pesada consequência da rejeição e da cruz (cf. v. 8). Todavia, justamente por sua total adesão ao Pai pela oração, levou à feliz consumação o projeto salvífico para todos os homens e mulheres que também optem pelo caminho da obediência (cf. v. 9).
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Evangelho: Jo 12, 20-33
O contexto narrativo da perícope de evangélica de hoje insere-se no final do Livro dos Sinais (1, 19 – 12,50). Após seu apostolado, acompanhamos Jesus entrando em Jerusalém (12, 12-19) e anunciando que a “hora” está por chegar. A apresentação derradeira do messias acolhido festivamente em Jerusalém é dada por João nas figuras dos gregos e da cruz.
Os gregos subiram para Jerusalém a fim de adorar a Deus no templo (v. 20). Seguramente a designação “gregos” aqui empregada refere-se aos não judeus ou, mais exatamente, a estrangeiros convertidos ao judaísmo. Acontece que aqueles que sobem para a adoração no templo, querem ver Jesus (v. 21). A indicação joanina dos gregos que têm a intenção de adorar a Deus no templo, mas, acabam por querer ver Jesus, aponta para a novidade da Aliança em Jesus: a partir de agora o templo não será mais o local de adoração. Outra importante característica é que os gregos não vão diretamente a Jesus, mas, am pelo intermédio de Filipe e André (cf. v. 21-22), indicando, simultaneamente, que a fé em Jesus não brota isoladamente no coração das pessoas e que a missão dos Apóstolos (da comunidade cristã) é conduzir todas as pessoas até Jesus, independentemente dos critérios humanos de segregação.
Entretanto, outro elemento narrativo atesta o tipo de messianismo de Jesus: a cruz. Mesmo sendo recebido pomposamente pelo povo reunido em Jerusalém para a festa da Páscoa, Jesus encontra-se angustiado porque visualiza em seu horizonte próximo a consequência de sua fidelidade ao projeto do Pai que não foi abraçado pelas lideranças do povo; aproxima-se a radical recusa de seus coetâneos que desembocará em sua atroz condenação e morte (cf. v. 27; 33). Por isso, a cruz é o momento máximo da glorificação de Jesus (cf. v. 23; 28), pois demonstrará sua obediência ao Pai e também revelará o projeto de salvação do Pai para a humanidade. Por isso, o trono do Jesus Messias é a cruz, nela ele será glorificado e dela atrairá as multidões à salvação (cf. v. 32).
Apresentado o Messias, João ainda abre espaço para a catequese sobre o que encontra aquele que quer ver Jesus. Contrariando a euforia dos discípulos e das multidões, quem quer ver Jesus, fazer o encontro libertador de vida com ele, deve estar disposto a seguir os seus os, aprender com ele. Por isso, também ao discípulo o caminho de gastar a vida pelo projeto do Pai, levando vida a todos com quem se encontra é o chamado fundamental; o discípulo deve ter em mente que este caminho é repleto de desafios e também há em sua jornada o horizonte da cruz (cf. v. 24-26). Este caminho, por sua vez, deve ser assumido com liberdade e convicção (cf. v. 29-30), pois, o julgamento do mundo a pela livre adesão ao projeto salvífico do Pai (cf. v. 31).
Pe. Bruno Alves Coelho, C.Ss.R.