33º Domingo do Tempo Comum – Ano A13/11/2020 5l4g2c
“Parabéns, servo bom e fiel! Como te mostraste fiel na istração de tão pouco, eu te confiarei muito mais. Vem participar da alegria do teu senhor!” (Mt 25, 21.23)
Tema central da Liturgia da Palavra
O centro da liturgia de hoje é o inequívoco retorno que o cristão deve dar em casa, na sociedade e na Igreja. Isto, porém, só é possível se o cristão se colocar no mundo como alguém dedicado e disponível para o trabalho (Primeira Leitura e Evangelho). A atitude cristã de transformação do mundo, por outro lado, deve estar solidamente plantada na fé de que o Bom Deus está sempre conosco, nos animando em nossa ação em vista do Reino dos Céus (Salmo e Segunda Leitura).

1ª Leitura: Pr 31, 10-13.19-20.30-31
O livro dos Provérbios condensa em si vários séculos do pensamento sapiencial de Israel, trazendo muitos temas abordados com profundidade. Seguramente foi utilizado como manual de educação para o povo. O trecho de hoje é parte do epílogo do livro e versa sobre o que seria, de fato, a mulher de valor.
Aqui, a mulher de valor é vista como modelo para todas as pessoas, ou seja, não é apenas uma fala de um sábio sobre o que deveria ser uma mulher. Isto demonstra, em Provérbios, a valorização da figura feminina como modelo do crente e do viver social: afinal, possui plena confiança de seu cônjuge e sempre lhe proporciona alegria (cf. v. 11-12), além de ter grande responsabilidade com o trabalho (cf. v. 13). Da firmeza e convicção de seu trabalho, brotam generosidade e socorro para os pobres (cf. v. 19-20). Finalmente, a preocupação da mulher não deve ser a manutenção de sua beleza, afinal, esta é ageira; mas, sua concentração de vida deve estar no constante e permanente temor de Deus, qualidades estas que são dignas de elogios e louvores públicos (cf. v. 30-31).
Salmo 127 (128), 1-5ab (R./ cf. 1a)
O salmo de hoje é um Salmo Sapiencial. Hermann Gunkel assim define este gênero sálmico:
Enquanto há elementos sapienciais encontrados em salmos de uma variedade de gêneros, há salmos que exibem uma concentração de temas sapienciais para serem considerados de um tipo distinto. Como tal, estes salmos não exibem um padrão singular único, mas compartilham de um número de características, incluindo:
(1) O salmista fala de suas palavras como sabedoria, instrução, etc.
(2) Ele descreve o “temor do Senhor”.
(3) Ele aborda seus ouvintes como “filhos”.
(4) Ele adverte, ensina, e usa figuras, técnicas de pergunta e resposta, bem-aventuranças, descrições dos caminhos do Senhor.
De forma geral, o Salmo 127 (128) apresenta sapiencialmente um lar que vive na presença do Senhor. A casa onde reina o amor de Deus é um lar feliz, que goza de paz e da alegria verdadeiras; o chefe da família é abençoado no trabalho, na casa, na esposa e nos filhos.
2ª Leitura: 1Ts 5, 1-6
Damos continuidade à leitura orante da Primeira Carta aos Tessalonicenses. A perícope de hoje nos apresenta algumas instruções de Paulo à comunidade sobre a nova vinda de Cristo.
De forma consciente, Paulo exorta a comunidade a não se preocupar com o momento e o tempo exato da segunda vinda do Senhor (cf. v. 1), pois, de fato, isto só Deus sabe, ou seja, virá inesperadamente (cf. v. 2-3). Entretanto, a comunidade não deve se angustiar com esta realidade, afinal, viver retamente a fé e praticar os valores do Reino, cada um vive na santa vigilância. Esta realidade demonstra que o cristão não vive nas trevas, mas na luz e, por isso, este dia não será uma surpresa, afinal, já estava sendo ansiosamente aguardado (cf. v. 4). Como o cristão é filho da luz (cf. v. 5) e já vive nesta santa expectativa, ele deve permanecer acordado, ou seja, na luz, e não adormecer seus sentidos de forma a viver como se fosse das trevas, isto é, à comunidade cabe vivenciar a fé na sobriedade e vigilância (cf. v. 6).
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Evangelho: Mt 25, 14-30
Terminada a narração das controvérsias em Jerusalém (cap. 19-23), Mateus nos apresenta o último sermão de Jesus: o Sermão Escatológico (cap. 24-25). Este sermão contém a fala de Jesus sobre as coisas últimas esperadas para o final da história e também versa sobre a sua segunda vinda. A parábola dos talentos, que forma a perícope de hoje, demonstra a forma como os servos (os cristãos) devem esperar a volta de seu patrão (o Senhor).
Enredo da parábola dos talentos: de forma simples, Jesus apresenta aos ouvintes uma comparação sobre as coisas últimas do Reino dos Céus: este é como um homem que viaja para o estrangeiro e, enquanto está fora, encarrega seus servos de istrarem e fazerem render seus bens (cf. v. 14). A narrativa nos apresenta três servos que, respectivamente, foram confiados alguns talentos: cinco, dois e um, de acordo com a capacidade de cada um (cf. v. 15). Diante de tal responsabilidade, cada um deu um jeito de trabalhar com estes talentos e conseguiram rendê-los em cem por cento, à exceção daquele que recebera um (cf. v. 16-18). Após muito tempo, o senhor voltou e foi acertar contas com seus servos (cf. v. 19). Os dois primeiros prestaram contas de seus lucros: foram congratulados pelo patrão, além de terem recebido a promessa de confiança em coisas maiores e serem incluídos na alegria de seu senhor (cf. v. 20-23). Já o servo que recebera apenas um talento, não rendeu nada por medo do patrão, mas sua desculpa não encontrou eco em seu senhor, pois, por medo ficou na preguiça e não quis trabalhar, por isso, foi censurado e excluído (cf. 24-27).
Nota: Conforme o glossário da Bíblia da CNBB, eis a definição de talento: “peso (35 kg) usado também como valor monetário (talentos de ouro ou de prata; em Mt 25, 15, provavelmente de ouro). Um talento de ouro representaria hoje 5 milhões de dólares!”.
Sentido da parábola dos talentos: o objetivo é muito claro, isto é, diante da incerteza causada pela demora da segunda volta de Jesus, a comunidade cristã corre o risco de arrefecer em sua fé e no compromisso de vivenciar os valores do Reino de Deus de forma clara e radical. Por isso, é importante que o cristão tenha a consciência de que a vinda do Senhor acontecerá, embora não caiba a ele, servo, saber o momento exato. Por isso, enquanto o Senhor não regressa, todo cristão deve sentir-se responsável por fazer multiplicar no mundo em que vive os talentos recebidos por Deus de acordo com a sua capacidade! Não há desculpas para o cristão viver de forma negligente sua vocação de filho de Deus. Ademais, se não formos fiéis aos desígnios divinos, corremos mesmo o risco de ficarmos fora da alegria do Reino (cf. v. 28-30).
Pe. Bruno Alves Coelho, C.Ss.R.