16º Domingo do Tempo Comum – Ano A17/07/2020 32zy
“Ó Senhor, vós sois bom, sois clemente e fiel!” (Sl 85, 5a)
Tema central da Liturgia da Palavra
O centro da liturgia de hoje é a calma de Deus e a impaciência humana. A justiça divina não é aplicada conforme sua força, mas, respeitando a limitação humana, a fim de que aprendamos com Ele a forma sadia de convivência (Primeira Leitura). Para que aprendamos de Deus a ser justos, devemos assumir nossa real natureza: há presença do bem e do mal no mundo, mas, também, em cada um de nós! Por isso, devemos agir com os outros como Deus age conosco: com justiça, clemência e misericórdia (Evangelho e Salmo). Ademais, necessitamos aprender a respeitar o tempo de Deus em nossa vida, aprendendo realmente a nele confiar (Segunda Leitura). Assim aprendendo e vivendo, estaremos construindo o Reino de Deus no presente de nossa existência!

1ª Leitura: Sb 12, 13.16-19
A perícope de hoje pertence às reflexões sobre a sabedoria divina na História. De forma concreta o Livro da Sabedoria inicia sua irada reflexão sobre quem é o Deus de Israel e a forma como trata seu povo. Ele é o único Deus que cuida de tudo com justiça (cf. v. 13). Inclusive, a justiça divina é o princípio de sua força (cf. v.16), fato que faz com Deus trate todas as criaturas com indulgência, afinal, as criaturas são imperfeitas, ou seja, na justiça divina devem ser tratadas como tais. Todavia, a justiça divina age pontualmente na história: aos que não creem no poder de Deus e são intransigentes quanto aos seus desígnios, recebem o castigo por suas ações (cf. v. 17); já aos fiéis, embora sejam falhos e merecessem também castigo, por causa de sua adesão a seu projeto Ele não lhes castiga, mas, os governa com clemência (cf. v. 18). Contudo, o povo deve perceber que o agir divino para com eles não é que Deus feche os seus olhos para suas infidelidades, mas, ao contrário, esta é a pedagogia divina para moldar o caráter de seu povo: se Ele, o Deus verdadeiro e todo-poderoso, trata seu povo com clemência e moderação, mantendo-se justo, assim também a relação entre as pessoas deve assim ser, ou seja, o justo é aquele que age com humanidade para com seu semelhante (cf. v. 19a) e, no tocante às ações equivocadas para com o projeto divino, deve logo haver o arrependimento (cf. v. 19b), realidade que mantém a esperança da salvação sempre viva!
Salmo 85 (86), 5-6.9-10.15-16a (R./ 5a)
O salmo é uma Súplica Individual. No meio das angústias o salmista pede a proteção divina e louva a Deus, o único que pode fazer milagres. Enfrenta o perigo confiante na misericórdia divina e pede a graça de viver dignamente.
2ª Leitura: Rm 8, 26-27
Damos continuidade à reflexão da Carta de São Paulo aos Romanos e tocando a mesma temática: a salvação universal por Cristo e as consequências disso. De forma específica a perícope de hoje mostra a esperança da glória. Diante das dificuldades da vida e das necessidades pontuais é comum pedirmos as forças a Deus para darmos conta destas. Entretanto, muitas vezes nossas orações são simplesmente uma transferência de responsabilidades, ou seja, fazemos nossas petições a Deus e queremos que Ele faça tudo por nós. E quando não alcançamos aquilo que pedimos, perdemos a esperança ou deixamos de confiar em Deus. A fim de que não percamos nossa segurança que é Deus, Paulo esclarece que muitos de nossos pedidos não são atendidos porque realmente não precisamos disso, afinal, não sabemos pedir (cf. v. 26b). Assim, temos a graça em nós do Espírito Santo que vem em socorro de nossa fraqueza e apresenta ao Deus as reais necessidades que temos (cf. v. 26ac). Portanto, não devemos nos desesperar pois já temos a certeza de que Deus já nos ouviu em nossas dificuldades e, se não recebemos aquilo que achamos que merecíamos ou precisávamos, é justamente por não precisamos de nada disso e só estamos confundidos por nosso errôneo discernimento limitado (cf. v. 27).

Evangelho: Mt 13, 24-43
Continuamos a meditação do capítulo 13 do Evangelho de São Mateus, dedicado ao Sermão das Parábolas ou, mais comumente conhecido, como parábolas do Reino. O anúncio do Reino de Deus é realizado por Jesus através de parábolas (cf. v. 34), ou seja, todo o mistério é explicado de forma que o povo simples de seu tempo pudesse entender, pois, as realidades ocultas são apresentadas a partir de exemplos práticas da vida do povo: agricultura e culinária. Além deste sentido primário e necessário da forma como Jesus prega o Reino, Mateus apresenta outro motivo: a pregação em parábolas era o cumprimento da profecia do Salmo 78, 2, citado textualmente (cf. v. 35).
Parábola do joio (v. 24-30) e sua explicação (v. 36-43): esta parábola evidencia bem claramente o sentido eclesial inaugurado por Jesus no tocante ao convite para que homens e mulheres adiram ao Reino de Deus. O ser comunidade no mundo não exclui a dura realidade marcada por sinais de morte (joio), mas, positivamente também é marcada por sinais de vida e graça (trigo); assim, ao mesmo tempo em que o campo é o mundo e a história, representa também a condição do coração humano, lugar em que coexistem bem e mal, isto é, joio e trigo! Portanto, no tocante à vida comunitária ninguém deve julgar-se superior a ninguém e também não pode haver espaço para exclusões, mas, ao contrário, o tempo de crescer trigo e joio ao mesmo tempo, implica o tempo de Deus para que os irmãos mais fracos na fé possam recobrar ânimo e se fortalecerem no seguimento real e radical dos valores do Reino de Deus. O tempo do crescimento conjunto do joio e do trigo também expressam a corresponsabilidade comunitária: embora ninguém deva pensar ser superior aos outros, é bem verdade que as comunidades de fé são compostas por pessoas com caminhadas distintas, assim, aqueles que estão mais fortalecidos na fé devem estender sua solidariedade e ajuda àqueles que ainda estejam na periferia da fé.
No tocante à explicação da parábola, o foco deixa de ser a realidade presente, tanto do mundo quanto das pessoas que compõem a comunidade de fé, e se desloca para o tema escatológico do juízo final, tempo da colheita. É interessante notar que aqueles que deixarem a lógica zelosa dos fariseus, que exclui os fracos, e adotarem como forma de viver a lógica do Reino de Deus receberão a consolação da recompensa final, cumprimento da promessa de Deus àqueles que viveram conforme seus ensinamentos. Portanto, a explicação da parábola é um profundo convite à conversão ao Reino de Deus!
Parábola do grão de mostarda (v. 31-32): as duas parábolas que seguem continuam expressando o mistério do Reino de Deus. As duas são mais simples e contém praticamente o mesmo conteúdo e o mesmo objetivo, muito embora são complementares entre si por demonstrarem a universalidade do Reino. O Reino de Deus é comparado ao grão de mostarda, semente pequena, mas, quando lançada na terra gera uma grande árvore capaz de dar abrigo aos pássaros que a ela se achegarem. O início do Reino, pois, é imperceptível e misterioso, contudo, se acolhido é capaz lançar profundas raízes e se fazer diferença para aqueles que o acolhem, pois, por ele serão acolhidos e defendidos!
Parábola do fermento (v. 33): também o fermento age no silencio e na pequenez. Tudo isto demonstra a forma como Reino é acolhido no coração dos fiéis e tem sua dinâmica própria. Embora pequeno na medida o efeito do fermento é enorme e eficaz: faz crescer a massa! Este é justamente o efeito do Reino acolhido e vivenciado pelos cristãos: um cristão é capaz de transmitir a outra pessoa este tesouro e, aos poucos, o mundo é transformado no sonho de Deus!
Autor: Pe. Bruno Alves Coelho, C.Ss.R.